SALMO 1 - A PRIMAZIA DA PALAVRA

1 Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2  Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. 3  Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. 4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. 5  Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. 6  Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá. Este poema é uma introdução de encaixe ao livro de 150 salmos. Revela o padrão básico da sabedoria e adoração de Israel. A vida é vista não nos momentos isolados do presente, mas na perspectiva da eternidade, na visão de Deus. O autor conecta vida humana intimamente com a vontade e o coração de Deus. O salmo lança um apelo desafiador a Israel – e a to

SERMÃO DE MIQUEIAS


Como anunciado queremos estudar nesta noite o livro do profeta MIQUEIAS. Ele tem sido chamado O Profeta dos Pobres, e eu gostaria que no final do sermão tirassem a sua própria conclusão se este título foi bem escolhido ou não.

Os ecos da pregação de Oséias ainda reverberavam nos palácios de Samaria quando uma outra voz profética ainda se fez ouvir nas colinas de Judá. Nesta hora crítica, quando o reino de Judá marchava para a sua destruição inevitável por causa da sua recusa de ouvir as advertências dos mensageiros de Deus, o povo de Judá corria o mesmo risco de bancarrota espiritual e exílio. A prosperidade material gerada por uma combinação de paz externa e de governo forte do rei Uzias tinha levado a tensão social ao ponto de ruptura. A pequena classe superior nadava em riquezas enquanto as massas sofriam o aperto de uma economia inflacionada. Os sitiantes mais do que outros sentiam a pressão da ganância sem limites da parte dos ricos que cobiçavam campos e os arrebatavam e casas e as tomavam no dizer do verso 2 do cap. 2:

(Os 2:2): "Se cobiçam campos, os arrebatam; se casas, as tomam; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança."

Linhas divisórias antigas que demarcavam as propriedades estavam sendo apagadas por membros egoístas das classes poderosas que nada tinham a temer de juízes corruptos. Viúvas estavam sendo despejadas de suas casas e os órfãos estavam sendo privados de suas heranças numa época quando a força fazia o direito. É o que diz o:

Cap. 2:9 – "Lançais fora as mulheres de Meu povo do seu lar querido; dos filhinhos delas tirais a Minha glória, para sempre."

A ganância dos ricos não conhecia limites e as leis deuteronômicas que protegiam os fracos e os pobres estavam sendo espezinhadas.

Cap. 2:1 – "Ai daqueles que, no seu leito, imaginam a iniquidade e maquinam o mal! À luz da alva o praticam, porque o poder está em suas mãos."

Em dias em que só se pensava em ficar rico depressa, o sistema judiciário estava tão corrupto que era incapaz de corrigir as injustiças praticadas. Onde quer que Miqueias olhasse, via engano e opressão e violência. Com as vias de comércio abertas durante os 50 anos de paz que reinaram na primeira metade do 8º século antes de Cristo, o país prosperava mas os novos ricos não se inclinavam a partilhar sua afluência com os membros menos favorecidos da sociedade. Ao contrário, a prosperidade material agia como um estímulo para ambições desmedidas. As circunstâncias estavam se tornando insuportáveis para os pobres que o profeta exclama no:

Cap. 7, versos 2 e 3 – "Pereceu da Terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto; todos espreitam para derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede. As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem o trama."

Totalmente esquecidos de sua educação religiosa e das restrições morais tradicionais, o pensamento de cada qual era de agarrar sua parte da riqueza disponível a torto e direito. Urdiam os seus planos de uma maneira tortuosa – é como o profeta o expressa.

Nesse clima de desonestidade geral, Miqueias adverte a seus conterrâneos a não confiar em ninguém.

4O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos.

Estou lendo no Cap. 7 versos 4 e 5. Eu sugeriria que tivessem sua Bíblia aberta, eu não estarei lendo sempre as passagens, mas darei os textos à medida que vamos nos referindo a eles. É no verso 4 que se encontra esta expressão interessante: "O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos."

E no Verso 5 – "Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro. Guarda a porta de tua boca àquela que reclina sobre o teu peito."

Esse quadro sombrio não é iluminado pelo zelo de um sacerdócio corajoso cujo dever era de ensinar a lei. "Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução", disse Malaquias (2:7). Mas em vão procuravam numa época em que o sacerdotes não eram melhores do que o povo. Frequentemente compactuavam nos crimes perpetrados a seus redor, e isso em troca de suborno, é o que diz no:

Cap. 3, verso 11 : "Os seus cabeças dão as sentenças por suborno, os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam no Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá."

Miqueias aqui repete um pensamento de Jeremias onde ele denuncia a falsa confiança que o povo punha na presença do templo: Se temos o templo, tudo está bem! O Senhor está no meio de nós, não importa a vida que vivamos! Se Deus está conosco, tudo irá bem!

É possível que Miqueias se tenha voltado para outros profetas à procura de apoio moral, pois era o dever deles vigiar como atalaias sobre os muros de Sião. Se estivessem estado no conselho do Senhor, sintonizados com o pensamento divino certamente teriam erguido as suas vozes para denunciar o pecado e a corrupção ao seu redor. Mas desgraçadamente, os profetas eram como "cães mudos" (Is 56:10) para usar uma expressão do profeta Isaías – não latiam, não davam alarme apesar da decadência moral que se generalizava. Tinham se deixado subornar, e com isso tinham perdido toda a autoridade moral. No mesmo descaramento profetizavam paz para alguém que lhes dava o que comer, e guerra para os que nada lhes metia na boca. É o que lemos no:

Cap. 3, verso 5 : "Assim diz o Senhor acerca dos profetas que fazem errar o Meu povo e que clamam: Paz, quando têm o que mastigar, mas agregam guerra santa contra aqueles que nada lhes metem na boca."

Infiéis à sua responsabilidade, sua luz se tinha convertido em trevas. Como cegos guiavam a outros cegos à destruição comum. Tal foi o clima moral e religioso em que Miqueias foi comissionado a labutar. Como Amós antes dele, ele também foi chamado ao ofício profético do ambiente austero de uma vila a 15 Km ao sudoeste de Jerusalém.

Ele foi contemporâneo do profeta Isaías. Mas ao passo que Isaías dá a impressão de ter nascido de uma família nobre em Jerusalém, e acotovelava-se familiarmente com os reis, Miqueias era do interior – uma cidadezinha de Moresete-Gate (Mq 1:14) Ele não tinha, portanto, nenhuma simpatia pela capital. Ele considerava que lá estava a sede da corrupção que se espalhava.

De Miqueias 1:1 pode-se facilmente deduzir que sua pregação começou antes de 722 AC, pois Samaria ainda estava de pé, e foi objeto de suas primeiras denúncias. Como o pecado de Judá provinha sobretudo da fonte de Jerusalém, diz ele no capítulo 1 (1:5), assim a transgressão de Israel tinha a sua fonte em Samaria, a capital do Norte, fundada por Onri e embelezada por seu filho Acabe, com palácios e muralhas de excelente qualidade como os arqueólogos têm demonstrado. Samaria conhecera o apogeu de sua prosperidade nos dias de Jeroboão II que reinou mais de 40 anos. E foram anos de relativa paz e prosperidade.

Mas agora várias décadas de desgoverno e violência tinham deixado a sua marca em seu esplendor em declínio, mas a despeito de sua riqueza e esplendor Samaria era uma cidade condenada. Miqueias culpa a sua idolatria desavergonhada por sua destruição iminente, é o que lemos em Miqueias 1, versos 5-7.

Apesar dos vigorosos protestos de Elias um século antes, Israel nunca pôde se decidir entre Jeová e Baal. Este compromisso entre a verdade e o erro era a causa profunda de sua desintegração moral e religiosa. A cegueira do domínio do Espírito infalivelmente se estende sua influência religiosa sobre todos os aspectos da vida. Assim se explica também a estupidez política que caracterizava os últimos anos do reino de Israel, levando à sua destruição pelo exército assírio pouco tempo depois.

O que mais afligia o profeta é que a praga da idolatria espalhou suas raízes de Samaria até Judá, não poupando mesmo Jerusalém, como dizem mesmo os versos 8 e 9.

9Porque as suas feridas são incuráveis; o mal chegou até Judá; estendeu-se até à porta do Meu povo, até Jerusalém.

A cidade santa, a cidade onde estava o templo, que deveria representar perante o mundo o governo divino do Seu povo, ele observa aí em Jerusalém os mesmos pecados florescentes de todos os segmentos da sociedade: reis, juízes, comerciantes, sacerdotes e profetas. O que irritava Miqueias ainda mais é que ninguém defendia a justiça e o direito, nem mesmo os sacerdotes e os profetas.

Mas antes de denunciar Jerusalém pelo crimes ali cometidos, Miqueias parece lançar um olhar sobre as vilas dispersas entre as colinas que lhe eram tão caras. Ele as conhecia desde sua adolescência, pois estavam a pouca distância de sua cidade natal Moresete, ele é chamado morastita, que vem de Moresete-Gate, mencionada no verso 14. Com intuição profética ele discerne nos nomes de cada aldeia uma premonição de sua sorte final.

Podemos imaginar que estas vilas a despeito de sua insignificância política não estavam isentas da corrupção que proliferava nos grandes centros. Ao profeta é dado ver que elas não escapariam do sofrimento e tragédia que seguiriam no rastro do exército invasor. Dentro de poucos anos o exércitos de Senaqueribe estariam pilhando aquelas vilas e levando a milhares de seus habitantes em cativeiro. Uns poucos encontrariam refúgio dentro dos muros de Jerusalém, mas muito mais sofreriam morte e exílio.

Coube a Miqueias anunciar seu sofrimento vindouro em trocadilhos feitos com os seus nomes. Afinal de contas Miqueias também é um poeta, ele conhece o significado das palavras e faz um trocadilho interessante na última parte do capítulo 1 ao mencionar vila após vila todas a 14 Km de distância da sua cidade natal. Não mais longe do que 14 Km. Assim ele vai dizer:

9... revolvei-vos no pó, em Bete-Leafra.

Bete-Leafra. Afar em hebraico significa pó.

10Passa, ó moradora de Safir, em vergonhosa nudez.

A bela Safira teria sua nudez exposta. Safira significa bela.

11Pois, a moradora de Marote suspira pelo bem.

Embora suspirasse pelo bem, a moradora de Marote experimentaria somente amargura. Marote significa amargura.

11Portanto, darás presentes de despojos a Moresete-Gate.

A rica Moresete-Gate receberia presentes de despedida como uma mendiga.

11... chegará até Adulão a glória de Israel.

Mesmo a pequena Adulão que tinha conhecido um pouco de glória nos dias de Davi viria esta glória partir para sempre.

Em Jerusalém a corrupção moral é tão grande que Miqueias impelido pelo Espírito do Senhor é obrigado a pronunciar a amarga predição que eu leio no:

Cap. 3, verso 12: "Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do templo, numa colina coberta de mato."

Esta profecia tão ofensiva ao orgulho nacional deve ter sacudido os seus contemporâneos de sua complacência e ter continuada a perturbar sua consciência por muito tempo. Seria citada um século mais tarde pelo povo que se colocou ao lado de Jeremias quando sua vida foi ameaçada segundo lemos em Jeremias 26 verso 18. Porque alguém se lembrou desta profecia de Miqueias 3 verso 12, e como o rei Ezequias não tinha percebido Miqueias por casa desta profecia, Jeremias também não devia morrer como o rei Jeoaquim queria fazer quando o secretário de Jeremias leu o rolo das profecias que Deus lhe tinha revelado até aquele momento. Assim Miqueias 3:12 goza a distinção de ser a única profecia citada em outro livro do Velho Testamento com menção do autor.

É verdade que Daniel (9:2) menciona Jeremias mas não cita texto nenhum. De outro lado, o oráculo de Miqueias 4:1-4 goza da distinção especial de se encontrar no livro de seu contemporâneo de Isaías. Daí temos um oráculo em Isaías 2:2-4 e que se encontra em Miqueias 4:1-4.

É tão lindo que merece ser lido (Mq 4:1-4) "Mas, nos últimos dias, acontecerá que o monte da Casa do Senhor será estabelecido no cimo dos montes e se elevará sobre os outeiros e para ele afluirão os povos."

É a esperança que Deus tinha concernente a Israel: que eles fossem o guia espiritual das nações, que as nações fluíssem para Jerusalém para aprenderem a respeito do verdadeiro Deus.

2Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião procederá a lei, e a palavra do Senhor de Jerusalém.

3Ele julgará entre muitos povos e corrigirá nações poderosas e longínquas; estes converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra.

Essas palavras que refletem a aspiração de toda a humanidade pela paz se encontram gravadas sobre as paredes do grande saguão do edifício das Nações Unidas em Nova York:

Miqueias 4, verso 3: "As nações converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra."

É lamentável que Israel não correspondeu à missão que lhe fora confiada. Mas este ideal sublime continuaria a inspirar os fiéis dos séculos vindouros.

Aqui e acolá no resto do livro encontram-se promessas de uma volta do exílio, como também em Isaías encontramos promessas de uma volta, quando Deus de novo estenderia Sua mão para recolher Seu povo como Pastor recolhe as ovelhas dispersas.

6Naquele dia, diz o Senhor, congregarei os que coxeiam e recolherei os que foram expulsos e os que Eu afligira.

E assim voltariam de novo ao monte de Sião depois do exílio em Babilônia.

A dispersão das tribos israelitas entre muitas nações não seria necessariamente um mal sem compensação. O profeta lhes acena com a possibilidade de que os israelitas fossem uma bênção a seus vizinhos na terra do exílio. Em vez de lamentar sua sorte, eles poderiam no meio de muitos povos "como orvalho do SENHOR, como chuvisco sobre a erva" (5:7). Que belo quadro do que deveria ser o povo de Deus no meio de outros povos "como orvalho do SENHOR, como chuvisco sobre a erva"!

O profeta lhes apresenta a possibilidade de ser líderes espirituais no meio de muitos povos "como o leão entre os animais da selva", é o que diz o Cap. 5:8: "O restante de Jacó estará entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais das selvas" – como líder espiritual.

É uma das tragédias da História que muitos poucos dentre o povo de Deus aproveitaram-se desta oportunidade como Daniel que foi um mensageiro fiel do seu Deus na corte de Babilônia.

Deus convida Seus eleitos a se tornarem instrumentos em Suas mãos para redenção de outros. Ele pode anunciá-lo na forma de uma promessa, mas não obriga ninguém a desempenhar o seu papel contra sua vontade.

Temos aqui, então, a esperança de Deus, que Seu povo fosse "como orvalho do SENHOR, como chuvisco sobre a erva" ou que fosse "como um leão entre os animais das selvas" – um líder religioso e moral em meio das trevas ambientes. Mas evidentemente a recalcitrância do povo eleito a se tornar colaboradores de Deus para a salvação de seu próximo não só os priva de uma bênção mas retarda o cumprimento final do plano divino.

Este papel de liderança espiritual do mundo não se podia concretizar a menos que a nação ou ao menos um remanescente se convertesse genuinamente de seu passado pecaminoso. Isto é indicado no cap. 5 versos 10-15. A ilusória confiança na força militar devia ser abandonada. A guerra na qual estavam convidados a participar não era da carne mas do Espírito. "Não por força nem por poder, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos" em Mal. 4 verso 6. Feitiçaria e adivinhações deveriam ser rejeitadas como coisas abomináveis. A idolatria em todas as suas formas deveria ser desarraigada e destruída.

A coisa maravilhosa é que Deus promete efetuar Ele mesmo esta purificação. A iniciativa é de Deus. Naturalmente, o homem deve dizer Sim ao oferecimento divino, mas no final essencialmente é uma obra da graça divina.

A missão de Miqueias como precursor de uma nova era ressalta ainda mais claramente de suas profecias messiânicas. Com efeito, mesmo aqueles que pouco conhecem de Miqueias se recordam de sua profecia sobre o lugar do nascimento de Jesus. É a profecia que sacerdotes e escribas citaram para Herodes quando o rei os indagou sobre onde o Messias devia nascer. Então responderam de acordo com:

Miqueias 5, verso 2: "E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade."

A profetas posteriores coube a tarefa de preencher os pormenores do quadro dAquele de cuja vinda a este mundo todo o futuro da humanidade dependia. Miqueias anuncia que Sua origem remonta aos dias da antiguidade. João no seu evangelho dirá no seu cap. 1, verso1: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."

Miqueias 5, verso 3 sugere um grande intervalo em que Israel viveria como que esquecido de Deus: são os 400 anos que vão da volta do exílio até à vinda de Cristo. Este intervalo se prolongaria até o tempo quando a mulher, isto é, a igreja daria à luz o Rei messiânico.

3Portanto, o Senhor os entregará até ao tempo em que a que está em dores tiver dado à luz; então, o restante de seus irmãos voltará aos filhos de Israel.

O verso 4 nos informa que o Rei vindouro viria como um Pastor poderoso na majestade do Senhor.

Podemos imaginar que Jesus Se apresentou como Bom Pastor que conhece as Suas ovelhas e pelas quais daria a Sua vida (Jo 10:14 e 11) na base desta profecia de Miqueias. Sob Seu cuidado Suas ovelhas habitariam seguras.

Aos olhos do profeta o futuro remoto não parece mais distante do que o futuro imediato. Uma coisa que os profetas clássicos não tinham é uma perspectiva clara do tempo. Foram precisos os livros de Daniel e Apocalipse para dar uma perspectiva do tempo – essa é a grande função desses dois livros dentro do Cânon das Escrituras. Para o profeta, o futuro parece como uma grande montanha sem que ele possa distinguir umas das outras as serras que a compõe.

Assim se explica que o profeta salte nos versos 5 e 6 do futuro messiânico distante para o futuro imediato, quando os assírios estariam invadindo Judá. Mesmo assim a promessa messiânica não é sem relação à necessidade presente. O mesmo Deus que enviaria Seu Filho para nascer na humilde Belém, não esqueceria Seu povo na crise que o ameaçava no presente. A mesma providência bondosa que planejava salvar o homem de seus pecados por Jesus Cristo era capaz de livrá-los mesmo então do inimigo cruel.

Toda a Bíblia concorda em afirmar que Deus está tão preocupado com a salvação eterna do homem como com seu bem-estar presente. Nenhuma necessidade do homem é demasiado insignificante para Seu cuidado solícito.

O último capítulo do livro de Miqueias parece-se mais com uma coleção de breves notas para futuros sermões. São como que fragmentos. No primeiros desses fragmentos – versos 1 a 6 – o profeta se considera tão solitário como último fruto numa árvore depois da colheita. A seu redor não vê nada senão impiedade, traição e desonestidade. O capítulo 7 repete muitas das idéias do capítulo 1. O melhor de seus contemporâneos é como um espinheiro. A depravação geral é tão grande que mesmo os mais ternos laços de família são quebrados.

É digno de nota que o verso 6 é citado por Jesus em Mateus 10:35, 36.

(Mq 7:6): "Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos do homem são os da sua própria casa."

Jesus, reconhecendo as divisões que criariam dentro das famílias pela recepção ou rejeição do Evangelho cita esse verso. A culpa não era do Evangelho, a culpa era daqueles que haveriam de rejeitá-lo e muitas vezes nutrir ódio àqueles que abraçavam o cristianismo.

O Verso 7 contém uma declaração de fé que é notável por sua beleza. É muito parecida com aquela declaração de fé de Habacuque que tivemos ocasião de comentar no sábado.

7Eu, porém, olharei para o Senhor e esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá.

Não importa as circunstâncias – podem ser as piores – mas o profeta diz: "esperarei no Deus da minha salvação". Nós devíamos assumir a mesma atitude. Há dias difíceis, todos passamos por crises, dias escuros em nossa experiência, mas a nossa fé em Deus devia continuar inabalável como a fé do profeta Miqueias. Outros podem desertar no dia da provação, ele permanecerá fiel a Seu Deus, não importa quão grande a perversidade ao seu redor ou quão sombria a perspectiva.

Na última parte do capítulo 7 Miqueias antecipa o dia quando os muros de Samaria bem como os de Jerusalém seriam derribados e seus habitantes exilados na Assíria e no Egito, mas seu olhar contempla também a glória da restauração depois da escuridão do exílio.

Assim os versos 11-14 contêm a promessa de um dia de restauração quando os eleitos do Senhor seriam recolhidos da terra de seus captores e reconstruiriam as cidades que jaziam em ruínas. A profecia mistura-se com uma oração para que o Senhor ainda venha apascentar Seu povo com desvelo como nos dias de outrora.

Os últimos três versos do livro – versos 18 a 20 – há muito têm sido associados na literatura judaica como o Dia da Expiação. Eram lidos eventualmente no fim de Yom Kippur , o Dia da Expiação que cai geralmente em Setembro ou Outubro, correspondendo ao 10º dia do 7º mês do calendário judaico. Estes versos eram lidos como uma conclusão apropriada para um dia que era considerado como o Dia do Perdão por excelência.

Conclui também da maneira mais apropriada esse pequeno livro que é tão eloquente em condenar os pecados de injustiça e avareza, mas também tão comovente em descrever ao pecador arrependido a compaixão e o amor divinos.

Deixamos o capítulo 6 por último, porque é no capítulo 6 que se encontra a pergunta que é o ponto focal do estudo desta noite. Voltemos então nossa atenção brevemente para o capítulo 6. No capítulo 6 encontramos uma mensagem profética na forma de uma cena de julgamento. O Senhor aí aparece como tendo uma controvérsia com Seu povo que é intimado à barra do tribunal divino. Montes e outeiros são convidados como testemunhas e Israel é o réu. O Senhor mesmo age como Juiz e Promotor. Israel é acusado de ter esquecido o seu passado.

Estamos nós esquecendo o nosso passado? Israel tinha esquecido como o Senhor os tinha guiado, como os conduzira por Moisés, Arão e Miriã, como os protegera das ciladas de Balaque e Balaão. Eu estou aqui abreviando o conteúdo da primeira parte do capítulo.

Como Ele abrira um caminho através das águas transbordantes do Jordão, permitindo que atravessassem o leito a seco de Sitim na margem oriental a Gilgal na margem ocidental. Por sua apostasia, Israel demonstrara ter olvidado os atos de salvação do Senhor – verso 5.

Isso nos lembra a bem conhecida declaração do profeta:

"Nada temos a temer quanto ao futuro salvo se esquecermos a maneira como o Senhor nos guiou em Seu ensinamento em nossa história passada."

Os versos 6 a 8 tratam da questão que tem perturbado as pessoas religiosas em todas as épocas: Como se apresentará o pecador diante de um Deus santo? Parece evidente que o pecador não pode aparecer diante de Deus de mãos vazias. Como, pois, se apresentar diante de Deus? E a pergunta então que o profeta faz é:

7Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite?

No fundo do coração o homem sente que não é isto o que Deus quer. Deve ele oferecer o seu primogênito como sacrifício por seu pecado? Nada maior poderia ele oferecer. Não obstante, isto também não parece saldar a imensidade de sua dívida para com Deus. À pergunta agonizante do homem, o profeta traz a resposta divina, uma resposta que revela profundeza sublime da graça de Deus.

Leio no Verso 8: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti:" – e o que é que o Senhor pede de nós? – "que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus."

Não, Deus não requer sacrifícios embora grandes. Ele já nos perdoou em Cristo. "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo", dizia o apóstolo Paulo. Em Seu infinito amor, Deus tomou toda a iniciativa de reparar a brecha aberta pelo pecado. Deus fez tudo, Ele proveu amplo perdão. O que Ele requer do homem, então? Nada em termos de dons materiais, mas requer tudo em termos de nossa dedicação a Ele. Essa dedicação do homem implica em praticar a justiça, em amar a misericórdia e em andar humildemente com o seu Deus. Em outras palavras, o que Deus quer é que o homem viva retamente, pratique a fidelidade. Em outras palavras, seja leal, que cultive uma relação amorável com seu Criador.

Aí está a essência da religião. O pecado tinha rompido essa relação de amor entre Israel e seu Deus.

O propósito da religião é restaurar esta comunhão que traz consigo todas as outras bênçãos. A religião é a vida vivida em comunhão com Deus. É a melhor definição.

Israel poderia ter desfrutado desta comunhão se tão-somente se lembrasse dos atos redentores de Deus em sua história. Mas tinha esquecido que o sacrifício de animais, introduzido como um remédio provisório para o pecado, tornou-se o ato religioso que tudo abarcava e obscurecia. Foi o papel do profeta corrigir este mal-entendido e dirigir mais uma vez o pensamento humano para aquilo que era essencial na religião.

Que pede, então, Deus de nós? Que nossas vidas sejam retas e transparentes sem presunção, que Lhe sejamos leais e assim como Enoque andou com Deus também nós andemos humildemente como nosso Criador sabendo que é Ele que nos concede graça para seguir a vereda estreita que conduz à vida eterna. Amém.

[MOMENTOS DE ORAÇÃO]

A grande pergunta que nos é dirigida: Que resposta vamos nós dar? O profeta diz que Israel perdeu muito por esquecer o seu passado. Em nosso passado eram muito comum as reuniões de testemunho em que os irmãos se levantavam um aqui e outro ali, e davam o seu testemunho: uma palavra de louvor, uma palavra de agradecimento, uma resposta ao pedido divino. Quem sabe esta noite, não somos muitos, poderíamos transformar esta reunião numa pequena reunião de testemunho durante 5 ou 10 minutos.

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