Em Lucas 15:2 fica claro que Jesus conta uma série de parábolas para chamar a
atenção dos seus ouvintes, em especial os fariseus que murmuravam diante da
atitude de Cristo de se relacionar com os pecadores e menos favorecidos. No
versículo 14 do capítulo 16 deste evangelho, nota-se que o tema do discurso se
amplia e agora Jesus fala acerca da avareza para os fariseus.
Neste
sentido, é bem provável que o “rico” da parábola represente os fariseus
avarentos, como o texto mesmo os decreve. O tipo de vestuário descrito por
Cristo era a roupa usada pelos judeus ricos, incluindo alguns fariseus, que
contrastava grandemente com os mais pobres. Sobre essa questão, COLEMAN, 1991,
p. 61 e 62, escreveu:
É interessante notar que
quando Jesus narrou a parábola do rico e Lázaro (Lc 16:19ss) ressaltou o fato
de que o rico egoísta tinha roupas de púrpura e linho finíssimo. Isso é digno
de nota pois normalmente ele não se preocupava em mencionar o que as pessoas
vestiam. O termo púrpura talvez designasse um dos diversos tons que ia desde o
roxo profundo, passando pelo carmesim. A túnica interior de linho, usada pelos
homens, era feita de uma fibra tingida de amarelo, que era importada do Egito,
e se chamava bisso. Era tão luxuosa
que os egípcios falavam dela como de “um tecido feito de ar”.
Alguns
autores também dizem que além dos fariseus Jesus estava falando para os
saduceus que não acreditavam na ressurreição (CHAMPLIN,
2002), mas isso é pouco provável por pelo menos duas razões. Em primeiro lugar
é que não encontramos na descrição do texto a menção da presença dos saduceus
entre os que estavam ouvindo a Jesus quando ele contava as parábolas
mencionadas em Lucas 15 e 16, que compões a perícope em estudo. E também como já foi descrito nesta pesquisa, o tema teológico da
parábola do rico e Lázaro não é sobre a ressurreição, muito menos sobre a vida
após a morte, mas sobre a avareza. É claro que as lições morais vão aplicar-se
à todas as classes e grupos, incluindo os saduceus, mas não podemos afirmar que
o rico como personagem representaria diretamente os saduceus.
No
texto de Lucas 16:19-31, Lázaro é o nome dado por Jesus ao mendigo da parábola.
O curioso é que em nenhuma outra parábola os personagens são nomeados, e isso
nos faz perguntar o porquê disso. Lázaro era um nome comum na época de Jesus,
inclusive conhecemos um Lázaro a quem Jesus ressuscitou (Jo. 11 e 12), será que
poderia haver alguma relação com ele? Ou seria apenas um nome aleatório? Podemos
encontrar alguma razão para Jesus nomear e usar especificamente este nome?
Lembrando
que os ouvintes da parábola são identificados em Lucas 16:14 como os fariseus,
devemos imaginar que Jesus poderia estar chamando a atenção deles para alguma
questão ao usar o nome Lázaro. Lázaro como termo é uma abreviação da expressão
hebraica “aquele que Deus ajuda” (ver GARDNER, 2000), que é uma ideia
importante no tema da parábola, a avareza contrastada com a humildade e amparo
de Deus aos necessitados.
Neste
sentido, abalizado pelo tema teológico da parábola, ao usar este nome comum
entre os judeus (Lázaro, forma grega de Eleazar que significa “Deus
ajudou” de acordo com BOYER,1997) Jesus
poderia estar ensinado aos fariseus que não são seus méritos que os salvarão, mas
a graça ajudadora de Deus.
Podemos
supor a princípio que Jesus usou um nome comum da época, mas semignorar seu
significado, que no idioma dos ouvintes, e no contexto da discussão teológica,
ajudou a enfatizar o tema da parábola que foi contada e fortaleceu sua
argumentação sobre o contraste e recompensa da avareza com a humildade e
infortúnio de muitos.
Todavia
não podemos ignorar ou desconsiderar que na cronologia dos evangelhos, esta
parábola foi contada por Jesus pouco antes da ressurreição de Lázaro (ROBINSON, 1834). Jesus poderia
estar indiretamente chamando a atenção dos fariseus que duvidavam do poder
divino de Jesus e haviam desacreditado seus milagres, para a ressurreição
impressionante que se seguiria pouco tempo após ele contar essa parábola, onde
Jesus concluiu assim: “Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se
deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dos mortos” (Lc. 16:31). Em
outras palavras, poderíamos supor que Jesus estava alertando para um grande
sinal que Ele realizaria em um futuro próximo, mas já prevendo sua negação por
parte de muitos.
Jesus já estava
adiantando que, como os fariseus não acreditavam na Palavra de Deus escrita e
nem na Palavra dita (por Jesus neste momento), não acreditariam nele mesmo após
ressuscitar Lázaro dos mortos. Imagine o impacto que foi para os ouvintes
escutarem essa parábola onde um personagem tinha nome próprio e logo após Jesus
ressuscitar Lázaro! Não podemos afirmar que Jesus usou intencionalmente esse
nome para esse fim, uma vez que ressurreição ou vida após a morte não eram o
tema principal da parábola, mas que essa relação pode ser lenvatada não podemos
negar por completo.
Fonte: Parte de uma exegese de Lucas 16:23 de Yuri Ravem G. V. e Paiva. yuriravem@yahoo.com.br
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