
Carl e Raylene Worthington são um casal americano que reside em Oregon. A sua filha de 15 meses, Ava, faleceu em março de 2008 vítima de uma broncopneumonia e uma infeção no sangue. Além da natural tristeza por esta perda, nada de especialmente anormal esta notícia teria; mas tem, devido a Ava não ter recebido qualquer tratamento médico enquanto ainda estava viva.
Carl e Raylene são membros da Igreja Seguidores de Cristo, que advoga o tratamento de doenças (particularmente em crianças) com base exclusivamente na oração de fé, sem recurso a intervenção médica. Talvez esta igreja seja mais conhecida por este aspeto do que por uma outra crença ou prática qualquer...
No caso de Ava, o médico que examinou o corpo referiu que a sua doença poderia ter sido resolvida com recurso a antibióticos. O casal Carl e Raylene está por isso acusado perante a justiça americana de negligência no tratamento de Ava, o que pode levar a uma pena de prisão até seis anos. O julgamento inicia-se amanhã, 23 de junho.
Por não aceitarem tratamento médico, as senhoras que são membros desta Igreja têm os seus partos realizados em casa. Desde 2001, vários desses partos foram noticiados como tendo corrido mal, o bebé ter falecido logo de seguida ou mesmo nascido morto.
São também frequentes os relatos de crianças e adolescentes gravemente doentes que não recebem qualquer tratamento médico e cujos familiares recorrem apenas à oração de fé. Quando o doente sucumbe perante a doença, os familiares penitenciam-se por não terem exercido suficiente fé que levasse à cura.
Não é meu objetivo neste momento debater o interessante assunto da cura pela oração de fé. Mas, creio que este caso levanta novamente a discussão – entre outras – sobre a relação do exercício da fé e as responsabilidades legais perante o estado.
A Bíblia claramente ordena que o homem deve sujeitar-se às leis da nação da qual faz parte: ‘Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e estejam preparados para toda boa obra; toda alma esteja sujeita às potestades superiores’ (Tito 3:1).
Mas, adverte também, que em caso algum essa observância deve obstruir o respeito pelos eternos preceitos que Deus deixou ao homem: ‘Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: mais importa obedecer a Deus do que aos homens’ (Atos 5:29).
Creio que os membros da Igreja Seguidores de Cristo devem conhecer estas passagens. Mesmo que não pareça, aqui se encontra uma razão para que eles atuem conforme vimos em relação a tratamentos médicos prestados aos seus membros ou filhos.
Repare: se, nas suas crenças, eles acreditam que a Bíblia ordena que todas as curas sejam feitas apenas com recurso à oração de fé, é natural que eles, querendo manter-se fiéis aos seus princípios orientadores, prefiram ser confrontados com o sofrimento da morte, a violarem aquilo que entendem ser a vontade de Deus, mesmo que isso implique a reprovação e penalidade legal perante as leis dos homens.
Se você, caro leitor, é um Adventista do Sétimo Dia, acompanhe o mesmo raciocínio com outros protagonistas e noutro âmbito (se não for Adventista do Sétimo Dia, irá entender igualmente, garanto-lhe…).
Imagine o seguinte cenário: você é um guardador do Sábado, porque acredita que essa é a perfeita ordem da imutável lei de Deus (ou seja, produzida pela mão Divina). Você crê que assim sendo, a observância do Sábado é um princípio inegociável da sua vida espiritual, do qual não abdicará seja porque motivo for.
Então, suponha que uma lei do estado (ou seja, produzida pela mão humana) o obriga a trabalhar no Sábado, sem opção. Mais: segundo essa lei do estado, todos os infratores serão punidos com a pena de morte, sem exceções.
E agora, caro leitor, o que você vai fazer? Qual das duas leis (que se chocam gravemente) você vai decidir respeitar? Sim, porque não há ponto de equilíbrio entre as duas leis: para observar uma, tem de quebrar a outra!
Como Adventistas do Sétimo Dia, acreditamos que é perante este dilema que muito em breve seremos colocados: observar a eterna lei de Deus – e em especial o seu quarto mandamento – ou ceder perante as exigências das leis dos homens que intentam destruir a expressa e clara vontade de Deus?
Por paradoxal que pareça, esta é uma grande oportunidade para o fiel seguidor da Bíblia. Leia este parágrafo de Ellen White.
‘O zelo dos que obedecem ao Senhor aumentará à medida que o mundo e a Igreja se unirem para invalidar a lei. Toda objeção levantada contra a lei de Deus abrirá o caminho para o avanço da verdade e habilitará os seus defensores a apresentarem seu valor perante os homens. Há uma beleza e poder na verdade que nada poderá tornar tão evidente como a oposição e a perseguição.’ Eventos Finais, pág. 123.
Em preparação para o grande embate final, faça sua a decisão de Josué: ‘eu e a minha casa serviremos ao Senhor’ (Josué 24:15).
FILIPE REISNascido e educado na Igreja Adventista do Sétimo Dia e batizado em Março de 1989, aos 13 anos. Vive em Vila Nova de Gaia, Portugal. Serviu vários anos como Diretor da Escola Sabatina e Ancião na Igreja de Pedroso, Portugal, entre outras funções. Em breve iniciará a formação em Teologia no Colégio Adventista de Sagunto (Espanha), para servir como Pastor. Editor do Blog
O Tempo Final. Casado com Sofia, tem um bebé, o Caleb Filipe, nascido em junho de 2009.
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