Salmo 23 - O Senhor é meu Pastor, nada me faltará...

1. Uma fórmula para o pensamento. Um pastor recebeu a visita de um homem que admira muitíssimo. Ele começara a trabalhar em uma certa empresa, muitos anos atrás, exercendo uma função inferior, mas com muita vontade de vencer. Ele era dotado de muitas habilidades, e de uma grande energia, e fez bom uso disso. Hoje, esse homem é o presidente da companhia, e possui tudo que tal cargo representa. Entretanto, durante a caminhada que o levaria a esta posição, ele não obteve a felicidade pessoal. Tornou-se nervoso, tenso, preocupado, doentio. Um de seus médicos sugeriu-lhe que procurasse um pastor. O pastor e ele conversaram sobre os remédios que lhe haviam sido receitados e que ele tomara. Depois, o pastor pegou uma folha de papel e lhe deu a sua receita: ler o Salmo 23, cinco vezes por dia, durante uma semana. Disse que o tomasse exatamente como ele indicara. Primeiro, deveria lê-lo logo que acordasse de manhã, atentamente, meditando bem nas palavras, e em espírito de oração. Depois, ele

Foram o Universo e a Terra criados ao mesmo tempo?

Segundo o relato da Criação, com que a Bíblia se inicia, “no princípio, criou Deus os céus e a terra.” (Génesis 1:1). Mas, pergunta fulcral: que “princípio” foi este? À primeira vista, esta pergunta poderá parecer desnecessária e, por conseguinte, até ridícula! A resposta mais óbvia parece ser uma simples redundância: o princípio é o princípio, ponto final! 

Certamente que deveria ser por aqui que deveríamos ficar, se a própria Bíblia não nos falasse de outros “princípios”! De facto, esses outros “princípios” parecem não ter nada a ver com este “princípio” mencionado em Génesis 1:1. Senão vejamos:

Disse Jesus: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” (João 8:44; meu negrito).

“Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.” (1 João 3:8; meu negrito).

Segundo o relato da Criação (em Génesis 2), assim que Deus criou Adão e Eva, deu-lhes imediatamente uma ordem para não comerem do fruto de uma determinada árvore que havia no jardim do Éden: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o Senhor Deus lhe deu esta ordem(1): De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Génesis 2:15-17). Fácil nos é compreender que, se Deus deu esta ordem a Adão e Eva, é porque o diabo já era um inimigo declarado de Deus e, se estava presente no jardim do Éden, é porque já tinha sido “atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12:9)!

Ou seja, os acontecimentos que rodearam a criação deste mundo e de Adão e Eva, tiveram claramente lugar num tempo posterior à expulsão de satanás e dos seus anjos do céu. Ora, se a criação deste mundo e de Adão e Eva ocorreram após a expulsão de satanás do céu, com muito maior legitimidade podemos afirmar que a criação da terra e da raça humana ocorreram muito depois da criação de Lúcifer, uma vez que, também ele, foi criado por Deus (o texto de Ezequiel 28:15, referindo-se a satanás, afirma: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti.” - meu negrito). Ou seja, uma primeira conclusão podemos já retirar: o Deus Criador trouxe à existência seres criados em diferentes momentos, no tempo! Mas há mais…

Não só foram satanás, e provavelmente outros anjos, criados muito antes de Deus ter criado este planeta Terra e os seus habitantes, mas outros seres (não angélicos) foram também criados bem antes desta terra e dos seus habitantes terem vindo à existência! É o que nos diz o próprio Deus, numa série de perguntas que colocou ao Seu servo Jó para levar este a cair em si e a reconhecer a Sua autoridade suprema sobre todas as coisas: “Onde estavas tu, quando Eu lançava os fundamentos da terra(2)? Diz-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva [entenda-se: anjos], juntas, alegremente cantavam e rejubilavam todos os filhos de Deus?” (Jó 38:4-7).

Quem eram estes “filhos de Deus”, aqui mencionados, que “rejubilavam”, se os próprios “fundamentos da terra” estavam a ser lançados? Seres humanos? De forma alguma, uma vez que estes só foram criados depois da terra ter sido fundada! A única resposta plausível é que se tratavam de seres, também eles, obviamente, criados por Deus, mas que já existiam aquando da criação desta terra e dos seus habitantes! Foi tudo criado por Deus ao mesmo tempo? A resposta a esta pergunta agora parece-nos óbvia: Não! Mas ainda há mais…

Um fabuloso texto que encontramos no livro de Provérbios vem, de forma clara e definitiva, encerrar este assunto e esclarecer, uma vez por todas, a nossa questão inicial (os negritos por mim acrescentados têm a função de realçar o assunto que estamos a tentar compreender):

“O Senhor me possuía no início da Sua obra, antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida(3), desde o princípio, antes do começo da terra. Antes de haver abismos, eu nasci, e antes ainda de haver fontes carregadas de águas. Antes que os montes fossem firmados, antes de haver outeiros, eu nasci. Ainda Ele não tinha feito a terra, nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo. Quando Ele preparava os céus, aí estava eu;” (Provérbios 8:22-27).

Conclusões óbvias a retirar deste texto:
1ª) Há “obras mais antigas” do que outras, o que significa claramente que Deus não criou tudo ao mesmo tempo, mas foi antes criando diferentes obras em diferentes épocas, no tempo;
2ª) O “princípio” aqui referido nesta passagem bíblica refere-se claramente a uma época que existiu “antes do começo da terra”. Daí que possamos inferir que o “princípio” mencionado em Génesis 1:1 pode não se referir, necessariamente, ao “começo [desta] terra”;
3ª) O texto refere ainda que “ainda Ele não tinha feito a terra” quando já “preparava os céus”. Pelo paralelismo típico da literatura hebraica (sobretudo na chamada literatura poética e sapiencial, de que o livro de Provérbios é um exemplo), podemos colocar em paralelo as seguintes expressões: “antes do começo da terra=ainda Ele não tinha feito a terra” e “[as] suas obras mais antigas=quando Ele preparava os céus” e concluir que a criação dos céus ocorreu antes da criação da terra, uma vez que a criação dos “céus” aparece na categoria das “Suas obras mais antigas”.

Conclusão final: O texto de Génesis 1:1, à luz de outros textos bíblicos, pode assim ser facilmente compreendido como sendo uma referência genérica à criação do universo, assim como à criação de um primeiro “esboço” da terra (“esboço” esse que corresponde à “terra… sem forma e vazia”, mencionado no versículo 2). O universo foi, todo ele, criado por Deus (ver Hebreus 11:3), mas numa época anterior à criação deste planeta Terra em que habitamos. E tal conclusão, longe de pôr em causa qualquer princípio de fé bíblico, reforça antes a nossa compreensão do Deus que a Bíblia nos apresenta.

Pensemos no seguinte: acreditamos nós que Deus é simultaneamente um Deus eterno e um Deus criador? Para qualquer cristão bíblico, a resposta é clara e óbvia: sim! Então, se Deus é um Deus criador e ao mesmo tempo um Deus eterno, não faz muito mais sentido acreditar que Ele foi manifestando o Seu poder criador ao longo dos séculos e milénios da Eternidade? Certamente que sim! Caso não acreditássemos nesta premissa básica, e pensássemos que Deus criou tudo num determinado momento, então surgiria uma pergunta, cuja resposta certamente ridicularizaria a pessoa de Deus: se Deus criou tudo ao mesmo tempo, então o que é que Ele esteve fazendo durante os restantes séculos da Eternidade? Nada? Não faz muito sentido ir por essa via!

Uma última pergunta: faz algum sentido aceitar que possam existir estrelas que emitem a sua luz há milhares ou mesmo biliões de anos? Respondo com outra pergunta: o que é que são esses milhares ou biliões de anos, comparados com a eternidade de Deus? Daí que a expressão contida em Génesis 1:16 “e fez também as estrelas” não faça muito sentido no contexto da criação desta terra! De facto, essa expressão não aparece nos manuscritos mais antigos e terá sido, por isso, adicionada por um escriba no decorrer de um trabalho de cópia, talvez por esse escriba achar que, nesse texto, seria provavelmente o melhor local para se falar da criação das estrelas, cuja referência lhe parecia estar omissa (e estava mesmo).

“Foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”? Sem dúvida nenhuma que sim! Mas o autor da epístola aos Hebreus diz-nos (em Hebreus 11:3) que é “pela fé” que “entendemos” essa realidade, o que pressupõe que tal conhecimento ultrapassa qualquer paradigma meramente racional e/ou científico(4). É pela fé que entendemos, e não apenas pela razão, porque a razão aqui torna-se claramente insuficiente para apreendermos a globalidade das obras criadas por um Deus omnipotente! Mas uma coisa podemos saber, com base na Bíblia, e compreender de forma racional: Deus não criou tudo ao mesmo tempo, porque sendo Ele simultaneamente eterno e criador, foi manifestando em diferentes épocas sucessivas o Seu Poder criador.

(1) “Esta ordem” mostra como Deus os tinha feito seres moralmente livres. Afinal de contas, se não tivessem a possibilidade de desobedecer, porquê adverti-los?
(2) Certamente que a “terra” aqui mencionada se refere ao nosso planeta Terra!
(3) Referência à Sabedoria, que Ellen White afirmou tratar-se da pessoa de Jesus Cristo (Ver: Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247-248 ou Patriarcas e Profetas, nova edição da Publicadora Servir, pág. 12).
(4) Isto tendo em conta que, de uma maneira geral, o paradigma científico atual não aceita nada da ordem do sobrenatural, apenas factos do mundo natural. Por conseguinte, é rejeitada liminarmente à partida qualquer intervenção da fé! Contudo, não deixa de ser estranha tal assunção, pois, na prática, na base de qualquer paradigma científico a fé ou a crença em algo está presente!

Autor: Pastor Paulo Cordeiro


FILIPE REIS
Nascido e educado na Igreja Adventista do Sétimo Dia e batizado em Março de 1989, aos 13 anos. Vive em Vila Nova de Gaia, Portugal. Serviu vários anos como Diretor da Escola Sabatina e Ancião na Igreja de Pedroso, Portugal, entre outras funções. Em breve iniciará a formação em Teologia no Colégio Adventista de Sagunto (Espanha), para servir como Pastor. Editor do Blog O Tempo Final. Casado com Sofia, aguardam para breve o primeiro bebé, que se chamará Caleb.

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