SALMO 1 - A PRIMAZIA DA PALAVRA

1 Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2  Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. 3  Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. 4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. 5  Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. 6  Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá. Este poema é uma introdução de encaixe ao livro de 150 salmos. Revela o padrão básico da sabedoria e adoração de Israel. A vida é vista não nos momentos isolados do presente, mas na perspectiva da eternidade, na visão de Deus. O autor conecta vida humana intimamente com a vontade e o coração de Deus. O salmo lança um apelo desafiador a Israel – e a to

SERMÃO DE ISAÍAS


O nosso estudo hoje é sobre o profeta ISAÍAS. Isaías é conhecido como o Profeta Evangélico, por causa das muitas profecias messiânicas contidas em suas páginas. É provavelmente o livro profético mais citado no Novo Testamento, porque os cristãos da igreja apostólica encontravam aí um verdadeiro arsenal de passagens que apontavam para o Jesus como o Messias prometido.

Isaías foi chamado ao ofício profético no ano em que o rei Uzias morreu (Is 6:1). Isso nos permite então estabelecer a data de 740 AC. como a visão inaugural deste profeta, e podemos descobrir através de outras passagens que ele deve ter sido um ministério profético de 40 anos, pois vamos encontrá-lo ainda ativo no tempo do rei Ezequias por ocasião da invasão de Judá pelo rei Senaqueribe da Assíria no ano de 701AC. Ele certamente foi ativo ainda mais alguns anos, mas não temos dados a respeito.

As mensagens do livro giram em torno de três grandes crises:

(1) Uma é a crise de 735 AC., conhecida como a guerra sírio-efraemita quando os vizinhos do Norte do reino de Judá, Israel e a Síria cuja capital era Damasco resolveram atacar Judá para obrigar o rei Acaz a entrar numa aliança militar contra a Assíria que naquele tempo tinha como rei Tiglate-Pileser III. Reflexos desta guerra encontram-se nos capítulos 7 e 8, bem no começo do livro. Isaías que deve ter sido um membro da aristocracia, pois ele podia confrontar os reis em pé de igualdade – aqui ele vai confrontar o rei Acaz.

O lugar é dado com precisão aqui, exatamente onde ele podia encontrar o rei Acaz, que mensagem lhe apresentar – era uma mensagem de fé, de encorajamento. O rei Acaz certamente estava planejando apelar ao inimigo – a Assíria – para socorrê-lo contra os seus dois vizinhos: Israel e a Síria. Isaías vai lhe dizer que não tinha nada a temer, Deus estava controlando a situação. Peca, o rei de Israel, podia mandar em Samaria e Rezim podia mandar em Damasco, mas não tinham autoridade nenhuma em Judá. Judá estava sob a soberania de Jeová. Leio então aqui esta bela mensagem:

Isaías 7:9 – "(...) se o não crerdes, – isto é se não crerdes na mensagem divina – certamente, não permanecereis."

O que era verdade para o rei Acaz, a permanência dele dependia de fé para estabelecê-lo, dar-lhe segurança, dar-lhe um ponto de apoio em Deus, sem este ponto de apoio ele desapareceria do mapa como um renegado da fé, como de fato ele terminou os seus dias.

O capítulo 8 continua refletindo este encontro com o rei Acaz, e aí descobrimos a importância da fé.

Cap. 8:6 – "Em vista de este povo ter desprezado as águas de Siloé, que correm brandamente, e se estar derretendo de medo diante de Rezim e do filho de Remalias," – isto é, de Peca.
7eis que o Senhor fará vir sobre eles as águas do Eufrates, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria, com toda a sua glória;

Por não terem posto a sua confiança em Deus, Deus permitiria então que o rei da Assíria – Tiglate-Pileser – viesse com seu exército, comparado aqui com águas impetuosas que transbordariam sobre o reino de Judá até o pescoço

7... águas que encherão o leito dos rios – são os exércitos de Tiglate-Pileser – e transbordarão por todas as suas ribanceiras.

Mas Isaías, mesmo no momento de perigo, podia exclamar no final do verso 8: "Ó Emanuel." A palavra Emanuel quer dizer: Deus conosco. Mesmo na hora do maior perigo Deus estaria com o Seu povo se este povo interpretasse os acontecimentos corretamente. Isaías depois lança um desafio a estas potências inimigas no:

Verso 10: "Forjai projetos, e eles serão frustrados; daí ordens, e elas não serão cumpridas, porque Deus é conosco."
11Porque assim o Senhor me disse, tendo forte a mão sobre mim, e me advertiu que não andasse pelo caminho deste povo, dizendo:
12Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o que ele teme, nem tomeis isso por temível.

O crente, pela fé, pode interpretar os acontecimentos de uma maneira totalmente diferente do descrente. Isaías aqui foi ordenado por Deus que não desse a mesma interpretação pessimista, negativa que os seus contemporâneos estavam dando aos acontecimentos.

12Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o que ele teme, nem tomeis isso por temível.
13Ao Senhor dos Exércitos, a Ele santificai; seja Ele o vosso temor, seja Ele o vosso espanto.

Aquele que teme a Deus nada mais tem a temer.

E no final do capítulo, abreviando com muita rapidez, Isaías vai nos deixar a seguinte lição importantíssima: o oposto da fé não é a dúvida, o oposto da fé conforme Isaías cap. 8 é a superstição. Aqueles que rejeitam a verdade tornam-se vítimas das superstições mais grosseiras.

Estamos assistindo isso em nossos dias. Aqueles que estão rejeitando o cristianismo estão se tornando vítimas de superstições superadas, antiquadas e em certo sentido a humanidade parece estar voltando para a Idade Média por falta de fé, por rejeitar a luz.

Aqui em Isaías 8:20 temos outra afirmação do profeta: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva."

Não há luz para aqueles que rejeitam a luz da Palavra de Deus. Se rejeitam a Lei, se rejeitam o Testemunho profético, nunca verão a alva.

22Olharão para a terra, e eis aí angústia, escuridão e sombras de ansiedade, e serão lançados para densas trevas.

Assim termina o capítulo 8, que caracteriza então esse grupo de capítulos relacionado com a crise de 735 AC.

(2) O outro grupo de capítulos tem que ver com a crise de 701 AC., quando um outro rei da Assíria – Senaqueribe – acaba invadindo Judá, sitiando Jerusalém, mas finalmente o profeta vai dizer que Jerusalém não cairia, Deus estaria com o Seu povo naquele momento crítico. São os capítulos 29, 30, 31, 32, 33 de Isaías que tratam dessa 2ª crise; e eu extrairei apenas uma ou duas lições desses capítulos.

O que o profeta queria ensinar naquele tempo é que Judá em vez de pôr confiança em alianças estrangeiras devia pôr a sua confiança em Deus. O que Judá não era de correr ao Egito pedir socorro contra a Assíria ou numa outra ocasião pedir socorro à Assíria contra o Egito, mas pôr sua confiança em Deus. Leio em:

Isaías 30, verso 15: "Em vos converterdes, e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes."

O que eles precisavam não era de alianças, mas de confiança em Deus. E se recorressem à força militar para resistir ao inimigo, eles seriam flagorosamente derrotados. É o que diz o:
Verso 16: "Antes, dizeis: Não, sobre cavalos fugiremos; portanto, fugireis; e: Sobre cavalos ligeiros cavalgaremos; sim, ligeiros serão os vossos perseguidores."

Se a igreja recorre a métodos mundanos para vencer o mundo, ela está fadada à derrota. A igreja, no cumprimento de sua missão, precisa usar métodos espirituais; então, ela será vitoriosa. Mas se ela lança mão da força política, militar para atingir os seus objetivos, ela está fadada ao desastre.

(3) O 3º grupo de capítulos que vai do 40 ao 66 gira em torno da volta do exílio babilônico. É como se o profeta fosse transportado 150 anos no futuro, e assiste agora ou prediz a volta daquele povo cativo em Babilônia para a terra prometida.

Alguns têm pensado que não se trata do mesmo Isaías. Fala-se mesmo na literatura de um deutero-Isaías, um outro profeta, um outro Isaías que teria vivido numa outra época 150 anos mais tarde, e teria sido então testemunha e mensageiro para aquela geração, vamos dizer, de 650 AC. Para mim pouco importa. O importante é que este grupo de capítulos é inspirado. Deus quis que estes capítulos aqui se encontrassem, eles têm uma mensagem para nós. E a mensagem concerne à saída do povo de Deus de Babilônia.

Começa então com o capítulo 40 com uma mensagem de consolação:

(Is 40:1): "Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus."
2Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que  já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados.

O profeta precisava insuflar novo ânimo nesse povo exilado, privado de todo o apoio externo para a sua religião, como nós comentamos ontem, tinham vivido mais de uma geração sem templo, sem sacerdócio, sem sacrifício e a fé de muitos estava profundamente abalada. Era preciso, portanto, consolar: "Consolai, consolai o Meu povo, diz o vosso Deus."

A grande cantata O Messias apropriadamente inicia o livreto com as palavras aqui de Isaías 40: "Consolai, consolai o Meu povo".

E Deus Se apresenta no verso 11 do mesmo capítulo como o Bom Pasto que vai guiar o Seu rebanho, o Seu povo de Babilônia de volta para a terra prometida.

11Como Pastor, apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam Ele guiará mansamente.

Deus como o Bom Pastor então tomaria cuidado desse povo nesse trajeto difícil de volta de Babilônia para Canaã. Era um trajeto de mais de 1.000 Km, através de regiões inóspitas, e naturalmente precisavam de coragem para enfrentar as vicissitudes dessa longa viagem. É quase certo que o coração de muitos não se abalavam ao que lhes parecia uma aventura extremamente arriscada. Daí, mensagens após mensagens vieram, foram pregadas àquela geração para assegurar-lhes do poder de Deus e do amor de Deus.

Leiamos, por exemplo, Isaías 41, versos 10 e 13:

10Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres porque Eu sou o teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento, com a Minha destra fiel."
13Porque eu, o Senhor, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que Eu te ajudo.

Não precisavam temer esta viagem perigosa através de regiões desertas. Se preciso fosse, Deus faria abrir rios mesmo no deserto. É o que diz o:

Verso 18: "Abrirei rios nos altos desnudos e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em açudes de águas e a terra seca, em mananciais."

Os profetas como regra eram poetas, e de todos os poetas nenhum atingiu uma majestade mais alta do que o profeta Isaías. É uma linguagem soberba. Ele aqui então diz que a onipotência divina faria tudo o que fosse necessário para que Seu povo voltasse triunfante à terra prometida. Mas ele não usa a linguagem prosaica que nós usaríamos, ele usa uma linguagem altamente poética: "Abrirei rios nos altos desnudos e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em açudes de águas e a terra seca, em mananciais" se preciso fosse. Deus acudiria o Seu povo se necessário fosse com milagres e mais milagres.

Já o capítulo 42 nos fala da missão de Israel nesse mundo, uma missão em que ele devia funcionar como um servo – servo de Deus para ministrar às necessidades espirituais não só de Israel mas mesmo dos gentios.

Cap. 42, verso 1 diz aqui: "Eis aqui o Meu servo, a quem sustenho, o Meu escolhido, em quem a Minha alma Se compraz; pus sobre ele o Meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios."

Promulgará a verdadeira religião para os gentios. Esta era a função de Israel. Deus esperava que eles cumprissem esta função no exílio, e depois continuasse a fazer brilhar a sua luz na terra de Canaã, para que os gentios tivessem a oportunidade de conhecer a grandeza do Deus que eles adoravam.

O ministério que deviam exercer era o ministério de amor. Esse servo:

2Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça.
3Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega; em verdade, promulgará o direito.

Um ministério de paciência, de amor, porque havia lá entre os exilados almas alquebradas pela dúvida, pela influência esmagadora de uma religião pagã que imperava em Babilônia, eles se sentiam pequenos diante daquela civilização, que era a civilização mais alta do mundo naquele instante.

6Eu, o Senhor, te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei mediador da aliança com o povo e luz para os gentios.

Era um grande privilégio. Infelizmente, não corresponderam a este privilégio, e coube a Cristo fazer aquilo que Israel não fez. Israel devia ser este servo eleito para abençoar a outros.

Cristo foi o verdadeiro Servo e Mateus vai citar estes versos que acabamos de ler no capítulo 42 e aplicá-los a Cristo.

Porque Cristo é o Cabaça de um novo Israel, Ele é o 2º Adão, Ele é o Cabeça de uma nova humanidade. Aquilo em que o homem falhou e que Israel falhou, Cristo exemplificou como nenhum outro poderia fazê-lo: o que é o amor de Deus, o que é a graça divina para com o mundo que se afundava no pecado.

Aqui diz que os povos "aguardarão a sua doutrina". Os gentios queriam ouvir a respeito desse Deus verdadeiro. Infelizmente Israel no seu exclusivismo nunca desenvolveu um verdadeiro espírito missionário. Eles guardaram para si o seu tesouro; mas essa verdade guardada, escondida acabaria sendo um tesouro perdido para eles.

Outra mensagem que deveria inspirar coragem, ânimo, fé a um povo abatido é o que se encontra no Cap. 43:1 – "Mas agora, assim diz o Senhor, que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu é Meu."
2Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.
3Porque Eu sou o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador;

E esta mensagem que era destinada a Israel também se aplica a nós em nossos dias. Quando passarmos pelas águas da tribulação, quando passarmos pelo fogo da aflição, Deus nos assegura que não temos de sucumbir, podemos sair vitoriosos. Quando passares "pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti."

Confiamos nós em Deus como o profeta nos exorta a fazer? Estamos seguros nesta fé preciosa de que Deus vela por Seus filhos aqui neste mundo? Se o Céu deu com Cristo o que o Céu tinha de mais precioso, e que Aquele que a Seu próprio Filho não poupou, certamente não vai poupar as dádivas necessárias para o nosso bem-estar presente e eterno.

Um fardo que iria pesar sobre os exilados tão grande como o fardo de serem colonos numa terra estrangeira, cativos de seus inimigos era o fardo do pecado. Este fardo pode se pior do que o fardo do cativeiro, do exílio, da morada numa terra estranha. Daí a promessa que nos é dada no capítulo 43 e que era dada àquele povo:

(Is 43:25): "Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de Mim e dos teus pecados não Me lembro."

Deus queria perdoar. Deus é rico em perdão, rico em misericórdia. Aquele povo precisava de uma restauração espiritual tanto quanto de uma restauração política, mas a restauração espiritual devia preceder a restauração política em sua terra. E Deus oferecia isto: santificá-los, perdoá-los, torná-los dignos de serem portadores de boas-novas aos demais povos da Terra.

A mesma promessa aparece no:
Cap. 44, verso 22: "Desfaço as tuas transgressões como a névoa e os teus pecados, como a nuvem; torna-te para Mim, porque Eu te remi."

Quão grande é o amor de Deus que através do profeta podia exortar dia após dia em sermões, em dias diferentes a diferentes grupos de exilados, repetindo essas palavras de conforto, de ânimo e essa promessa de perdão, pois Deus aqui diz que desfaria as suas transgressões como a névoa, e os seus pecados como a nuvem. E portanto, que voltassem em plena confiança ao seu Deus, do qual se tinham alienado por anos de idolatria e apostasia.

E Deus embora tivesse um olho particular sobre Israel, também tinha os Seus olhos para os gentios. Eles também eram objeto de Seu carinho. Deus estava planejando também salvar os gentios através de Israel, mas se Israel falhasse Deus tomaria outras providências.

Notem o que ele diz no Cap. 45, verso 22: "Olhai para Mim e sede salvos, vós todos os limites da Terra; porque Eu sou Deus, e não há outro."

Deus aqui convida não somente os israelitas, o Seu povo, a desfrutar de benções que Ele tão prodigamente estava lhes oferecendo, mas se os próprios gentios vindos dos termos da Terra, das extremidades da Terra se voltassem também a Deus e reconhecessem que Jeová unicamente é Deus e não há outro.

24De Mim se dirá: Tão-somente no Senhor há justiça e força; até Ele virão e serão envergonhados todos os que se irritaram contra Ele.

Todos os que se tinham apostatado em anos passados.

25Mas no Senhor será justificada toda a descendência de Israel e nEle se gloriará.

O capítulo 46 contém uma mensagem vazada em outros termos que deveriam impressionar aquela gente que se tinha assustado diante da grandeza de Babilônia, da grandeza dos seus templos e dos deuses que ali eram adorados como Bel, Nebo.

No Cap. 46 começa com as seguintes palavras: "Bel se curva, Nebo se abaixa".

Bel é o babilônio correspondente a Baal, e Bel quer dizer senhor, é o título que era concedido ao deus Marduk, o chefe do panteão babilônico. Então aqui está uma abreviação do seu nome. Nebo é a maneira portuguesa de dizer Nabu, que era a maneira babilônica, era o deus da sabedoria, cujo nome aparece no nome de Nabucodonosor. Os reis na antiguidade geralmente levavam títulos, nomes que eram orações à divindade. E Nabucodonosor é a maneira grega de dizer NabuÆÐkudurriÐus\ur1, "que o deus Nabu proteja a fronteira" – é o que queria dizer o nome de Nabucodonosor. Aqui temos então dois deuses mencionados:

(Is 46:1): Bel se curva, Nebo se abaixa; os ídolos são postos sobre os animais, sobre as bestas; as cargas que costumáveis levar são canseira para as bestas já cansadas.
2Esses deuses juntamente se abaixam e se encurvam, não podem salvar a carga; eles mesmos entram em cativeiro."

Isaías está usando aqui o ridículo, ridicularizando essas divindades adoradas em Babilônia e diante das quais alguns israelitas estavam ficando duvidosos: Será que Jeová realmente é o único Deus verdadeiro ou esses deuses de Babilônia têm algum poder?

Isaías vai usar o seguinte argumento: Esses deuses precisam ser carregados. Frequentemente procissões percorriam as ruas de Babilônia e sobre andores iam aqueles deuses, particularmente na festa de Akitu que se realizava na primavera de cada ano, quando os deuses eram levados de um templo para o outro, e o rei recebia de novo cada ano a realeza das mão de Marduk. Mas em contraste com esses deuses que precisavam ser carregados.

3Ouvi-Me, ó casa de Jacó e todo o restante da casa de Israel; vós a quem desde o nascimento Eu carrego e levo nos braços desde o ventre materno.
4Até a vossa velhice, Eu serei o mesmo e, ainda até às cãs, Eu vos carregarei; já o tenho feito; levar-vos-eis, pois, carregar-vos-ei e vos salvarei.

Que contraste! Os deuses de Babilônia precisam ser carregados em carroças, ou sobre os ombros de seus adoradores, ao passo que o Deus verdadeiro carrega os Seus filhos em Seus braços: "desde o nascimento Eu carrego e levo nos braços desde o ventre materno. Até a vossa velhice, Eu serei o mesmo". Nada temos a recear se temos posto nossa confiança em Deus – Ele nos levará até o limiar da Cidade Eterna.

O Cap. 48, verso 18 contém uma outra verdade: "Ah! Se tivesses dado ouvidos aos Meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar."
Israel não precisava ter passado pela experiência amarga do exílio e cativeiro em Babilônia. Eles acarretaram sobre si mesmos todo esse pesar, todo esse sofrimento, porque se afastaram de Deus, se esqueceram de Deus, profanaram o Seu templo, negaram a sua fé pela sua conduta pagã. Mas se tivessem dado ouvido aos Seus mandamentos, então a sua paz, seu bem-estar seria como um rio, porque a palavra paz aqui é a palavra shalom que significa bem-estar total – o bem-estar físico, mental e espiritual.

Não precisariam ter, então, passado pelo rio da tribulação, nem pelo fogo da aflição se tão-somente tivessem ouvido os mandamentos divinos. Ao contrário, aqueles que recusassem ouvir o profeta diz no:

Verso 22: "Para os perversos, todavia, não há paz, diz o Senhor."

O perverso é aquele que recusa ouvir a voz de Deus. Eles não poderão desfrutar de paz nem no presente e nem no futuro.

Havia muitos que apesar da pregação desse profeta que deve ter durado vários anos, ainda pensavam que Deus os tinha esquecido. E no capítulo 49 o profeta vai dizer que Deus de maneira nenhuma pode esquecer os Seus filhos aqui neste Terra.

Ele faz então um contraste impressionante no verso 15:

(Is 49:15): "Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti."

É raro a mãe esquecer-se de seus filhos, talvez uma mãe degenerada, mas é uma exceção, pois ainda que uma mãe se esquecesse de seus filhos, Deus de maneira nenhuma poderia fazê-lo. "ainda que esta viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti." E por que não?

Verso 16: "Eis que nas palmas das Minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante Mim."

Se era verdade naquele tempo que o Seu povo estava gravado, por assim dizer, nas mãos do Onipotente, nas mãos do Altíssimo quanto mais verdade é isto desde o Calvário, desde que Cristo foi por nós crucificado! Ele leva para sempre as marcas da crucifixão, uma insígnia do Seu poder e do Seu amor. Então, se Deus naquele tempo não podia Se esquecer de Seus filhos exilados em Babilônia menos hoje pode Ele esquecer de nós quando estamos realmente gravados nas palmas de Suas mãos.

O Cap. 51, verso 11 descreve os resgatados voltando numa procissão triunfal: "Assim voltarão os resgatados do Senhor e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria lhes coroará a cabeça; o regozijo e a alegria os alcançará, e deles fugirão a dor e o gemido."

É o único verso que no livro de Isaías é repetido duas vezes. Uma no capítulo 35, outra no capítulo 51, verso 11.

Aquela volta do exílio foi típica da volta de todos os remidos à Pátria celestial. Somos todos peregrinos e estrangeiros nesta Terra. Como Abraão, aguardamos a cidade da qual Deus é o Arquiteto e Fundador. De acordo com a promessa divina, perpétua alegria substituirá a dor e o gemido.

No Cap. 52, verso 11 nós temos, então, o convite para sair de Babilônia: "Retirai-vos, retirai-vos, saí de lá, não toqueis coisa imunda, saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor."

Estavam como que dormindo muito deles, e o profeta procura sacudi-los de sua letargia, da sua indiferença. Muitos estavam bem acomodados em Babilônia – não viam razão urgente para sair – mas o profeta procura sacudi-los de todos os modos, obrigá-los a despertar e ouvir o convite divino: "Retirai-vos, retirai-vos, saí de lá, não toqueis coisa imunda".

Dizíamos outro dia, ao comentarmos o profeta Zacarias, aqueles que saem de Babilônia devem deixar em Babilônia os pecados de Babilônia. "não toqueis coisa imunda" e particularmente aqueles que levam "os utensílios do Senhor", os vasos da casa do Senhor.

Os servos de Deus, que serão instrumentos de Deus, para levar a luz do conhecimento do Altíssimo a um mundo que jaz em trevas, esses particularmente devem purificar-se internamente, externamente para serem instrumentos dignos de levar as boas-novas de salvação àqueles que perecem.

"purificai-vos" é a mensagem que o Senhor a nós que também estamos saindo de Babilônia em marcha para a Cidade Eterna, segundo a linguagem de Apocalipse 18.

A nova comunidade, formada pelo remanescente de Israel, devia ser uma comunidade santa, refletindo a santidade do seu Deus. Como no êxodo do Egito Deus guiara Seu povo por uma coluna de fogo durante o dia e uma coluna de nuvem à noite, assim promete agora liderá-los e também servir-lhes de retaguarda. Notem o:

Verso 12: "Porquanto não saireis apressadamente, nem vos ireis fugindo; porque o Senhor irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda."

Deus na vanguarda, Deus na retaguarda; o povo nada tinha a temer. É verdade que a travessia daquele deserto de 1.000 Km, não é todo deserto mas é uma boa parte, toda a caravana que atravessava aquele território estava mais exposta, aqueles que marchavam na vanguarda e aqueles que marchavam na retaguarda. Mas Deus está com eles indo "adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda", protegendo a Seus filhos nessa peregrinação em demanda da terra prometida.

A função redentora de Israel é retratada de uma maneira impressionante, o que é chamado "Os Cânticos do Servo Sofredor". Ao que os teólogos chamam "Os Cânticos do Servo", dos quais alguns contam 4, outros contam 5 nesses capítulos de Isaías 40 a 53. De todos, o mais profundo, o que toca a todos nós mais de perto é esse cântico que vai do cap. 52:13 ao cap. 53:12. Ele descreve a função redentora em primeiro lugar de Israel – Israel devia estar disposto a dar a vida no cumprimento dessa missão de salvação dos gentios; assim fazendo, Israel estaria prefigurando a obra redentora de Cristo.

Compreendido desse modo, este Cântico do Servo Sofredor do capítulo 53 tem uma aplicação dupla: anuncia a missão de Israel e anuncia a missão de Cristo. O profeta nem sempre é consciente do significado profundo da mensagem que transmite. Não sabemos se o profeta compreendeu que ele estava visualizando aqui duas realidades: a realidade de um povo operando nesta Terra – o povo de Israel como um agente de Deus para a redenção dos gentios – e ao mesmo tempo focalizando Cristo, Aquele que faria o que Israel deixou de fazer, Aquele que seria na realidade "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo." Notem algumas das expressões nesse cântico maravilhoso.

7Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.
10 (...) quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.

Se a vontade de Deus não prosperou nas mãos de Israel segundo a carne, ela prosperaria nas mãos de Cristo que é verdadeiro Israel.

11Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito. O meu servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si.
E a última parte do verso 12:
12 (...) foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercede.

Aqui está retratada, então, a missão de Cristo, mas que numa escala menor também devia ter sido a missão de Israel. Mas damos graças a Deus que Jesus aceitou essa missão – a missão de Servo Sofredor – de tomar sobre Si a nossa iniquidade. O castigo que nos traz a paz Ele aceitou que caísse sobre Ele, para nos reconciliar com Deus, nos justificar, levar sobre Si o pecado de todos nós e de interceder pelos transgressores.

Aqui estou fazendo uma correção no texto português, onde diz: "e pelos transgressores intercedeu." Não há razão nenhuma de colocar isso no passado; no hebraico está no presente, e para nós é extremamente valioso o fato de que está no presente. Cristo não só intercedei a favor dos transgressores no passado, não só intercedeu a favor daqueles que O crucificavam, dizendo: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem", mas Cristo intercede por nós hoje. Ele completa nos Céus a obra que Ele iniciou na cruz, e é pela Sua intercessão a nosso favor que Ele torna real em nossa experiência individual a expiação por Ele efetuada sobre o Calvário.

Finalmente, para concluir esse breve apanhado dessa 3ª parte do livro de Isaías, lerei apenas mais dois versos que eu chamaria: O Último Convite da Graça. Aquele povo estava sendo convidado por mensagens após mensagens, capítulos após capítulos, mas há um limite à paciência divina. Daí o capítulo 55 ser chamado: O Último Convite.
Cap. 55, verso 6: "Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto."

Um dia será tarde demais, um dia Deus não estará mais perto, um dia Ele não Se deixará mais invocar por Seus filhos. É como Amós disse, em outras palavras: Um dia muitos buscarão a palavra de Deus, irão de uma extremidade da Terra a outra mas não a encontrarão. Aqueles que negligenciaram ouvir o convite do Evangelho quando ele lhes foi apresentado, um dia desejarão ouvi-lo, mas será tarde demais.

6Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto.
7Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.
8Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os Meus caminhos, diz o Senhor,
9porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.

[MOMENTOS DE ORAÇÃO]

Vamos tomar alguns minutos para oração, como temos feito em noites passadas. Nós queremos fazer de um modo um pouco diferente esta noite. Não somos muitos, gostaríamos de fazer como fazíamos nos velhos tempos na Igreja Central da Rua Taguá, em que se dava oportunidade aos presentes de orarem espontaneamente. Gostaríamos então de sugerir essa noite que duas pessoas nessa ala orassem, enquanto os demais ouvem; depois duas pessoas nesta ala; depois duas nesta; depois duas naquela.

Oremos uns pelos outros, sejamos espontâneos na nossa oração, sejamos breve. Jesus disse que não é pela multiplicação de palavras que nós seremos ouvidos; os pagãos pensavam que era pela multiplicação de palavras. O crente poderá orar brevemente na certeza de que será ouvido.

Há alguma pedido especial esta noite? Já estive orando com algumas pessoas na sala pastoral.

1 Nichol, Francis D., The Seventh-day Adventist Bible Commentary, (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association) 1978.

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