Salmo 23 - O Senhor é meu Pastor, nada me faltará...

1. Uma fórmula para o pensamento. Um pastor recebeu a visita de um homem que admira muitíssimo. Ele começara a trabalhar em uma certa empresa, muitos anos atrás, exercendo uma função inferior, mas com muita vontade de vencer. Ele era dotado de muitas habilidades, e de uma grande energia, e fez bom uso disso. Hoje, esse homem é o presidente da companhia, e possui tudo que tal cargo representa. Entretanto, durante a caminhada que o levaria a esta posição, ele não obteve a felicidade pessoal. Tornou-se nervoso, tenso, preocupado, doentio. Um de seus médicos sugeriu-lhe que procurasse um pastor. O pastor e ele conversaram sobre os remédios que lhe haviam sido receitados e que ele tomara. Depois, o pastor pegou uma folha de papel e lhe deu a sua receita: ler o Salmo 23, cinco vezes por dia, durante uma semana. Disse que o tomasse exatamente como ele indicara. Primeiro, deveria lê-lo logo que acordasse de manhã, atentamente, meditando bem nas palavras, e em espírito de oração. Depois, ele

Sermão de Habacuque


Foi por amor à verdade e de total dependência da graça de Deus que eu aceitei o convite de liderar esta Semana de Oração, esta semana de aprofundamento espiritual nesta igreja de Moema Não são meus estudos que me qualificam para isto, mas será unicamente a presença do Espírito de Deus em nosso meio que fará dessa Semana de Oração o que ela deverá ser – uma semana de aproximação de Deus.

Eu leio do livro do profeta Isaías cap. 58, palavras que servem de introdução para esta série de estudos:
Isaías 58:1 e 2 – "Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao Meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados. Mesmo neste estado, ainda Me procuram dia a dia, têm prazer em saber os Meus caminhos; como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus, perguntam-me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus."
Se a leitura tivesse terminado com o primeiro verso, ela nos teria deixado com um sentimento de depressão e desânimo; mas felizmente o profeta continua dizendo: "Mesmo neste estado"– estado de pecado, de imerecimento – "Mesmo neste estado, ainda Me procuram dia a dia".

E eu creio que há dezenas e centenas de pessoas aqui que se qualificam nessa descrição do profeta – procuram a Deus dia a dia, "têm prazer em saber os Meus caminhos; (...) perguntam-me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus."

E se estamos aqui esse sábado de manhã é porque temos prazer de nos achegar a Deus. O que é a religião afinal de contas se não é uma tentativa de nos aproximar de Deus? E eu espero que todos os estudos dessa semana contribuam de uma maneira ou de outra para nos levar para mais perto de Deus.

Os profetas foram os grandes precursores do Evangelho. Podemos descobrir neles jóias preciosas de verdades que mais tarde seriam expandidas e glorificadas na pregação de N.S. Jesus Cristo. Há muitos que lêem os Profetas, particularmente os Pequenos Profetas com muita dissidência, com muito temor porque não podem entender o sentido de algumas dessas mensagens. Eu espero que também como resultado dessa série de estudos muitos fiquem encorajados a continuar os seus estudos, a ler com mais inteligência e compreensão a mensagem dos Profetas.

Uma maneira de melhor compreendê-los é de nos colocar em seu lugar por um esforço de nossa imaginação. Digamos compreender sob que circunstâncias os Profetas estavam pregando, quais eram os problemas que enfrentavam, qual era a situação religiosa, às vezes até a situação econômica, a situação social, moral que eles defrontavam para as quais a sua mensagem era uma resposta.

Cada profeta tem uma resposta a um problema específico do seu tempo. E não podemos compreender o que eles têm a nos dizer hoje sem primeiro compreender o que eles tinham a dizer a seus contemporâneos. Eles eram, então, em primeiro lugar não profetizadores do futuro, eles eram pregadores de justiça à sua geração; e somente em 2º lugar lhes foi dado alguns vislumbres de acontecimentos distantes na História, sobre os quais eles também haveriam de tecer algum comentário para o nosso benefício, "a quem são chegados os fins dos séculos".

Assim começando com o profeta Habacuque, devíamos nos lembrar que ele estava falando pouco antes do povo de Judá ir para o cativeiro babilônico. A nação estava em pleno colapso moral, espiritual; o profeta estava consciente disso, ele mesmo participa de um sentimento de revolta contra toda a violência que ocorria em Judá, toda a injustiça, a opressão dos pobres pelos ricos e outros problemas que agitavam a mente de pessoas que pensavam:
(Hc 1:2): "Até quando, Senhor, clamarei eu, e não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás?"

Habacuque ou outro dos profetas contemporâneos como Sofonias, Jeremias, Naum; e é um fato muito interessante que um profeta raramente menciona o nome de outro profeta. Só encontramos dois exemplos. Um no livro de Jeremias, e não foi Jeremias que estava citando um outro profeta, é o povo que se lembrou que Miquéias um século antes tinha pregado algo semelhante e não tinha sido lapidado como queriam lapidar Jeremias naquela ocasião. O outro exemplo se encontra no livro de Daniel que, estudando, estudando ele não faz referência a Jeremias como seu contemporâneo, mas ele diz que estudando as profecias de Jeremias ele compreendeu que os 70 anos estavam chegando a seu fim.

Pois bem, voltemos então a Habacuque e os seus problemas. O seu nome pouco significa. Os próprios comentaristas não estão unânimes em definir a origem do nome. Deixamos, portanto, de lado, não é importante, o importante é saber que ele é um porta-voz de Deus à sua geração, e pelo poder do Espírito Santo ele fala também aos problemas de nossa geração.

Um outro fator que nos levará a compreender melhor a mensagem dos profetas é reconhecer que eles são geralmente poetas – eles escrevem como poetas. Podemos dizer que 2/3 de toda a literatura profética é vazada em forma poética, e reconhecer isso nos ajudará a compreender também as suas mensagens, Habacuque então nos vai transmitir uma mensagem não somente através do conteúdo destes 3 capítulos, mas através da sua própria experiência.

Perceberemos 3 etapas na experiência de Habacuque. Na 1ª etapa ele demonstra um certo sentimento de revolta, descontentamento. Ele está revoltado com a situação em Judá, e revoltado porque Deus nada fazia para pôr fim aos abusos, à violência, à imoralidade que prevaleciam em seus dias.
(Hc 1:3, 4): "Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifestam, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida."

É um quadro muito parecido com o quadro que nós vemos ao nosso redor hoje em dia. E Habacuque então estava impaciente com o fato que aparentemente Deus nada fazia para coibir todo esse mal, toda esta  degradação moral e espiritual que ele presenciava dentro do seu próprio povo – o povo de Judá que deveria ser o exemplo de outros povos.

O que se segue é a resposta de Deus a esta pergunta de Habacuque. Temos aqui então um diálogo. O profeta se queixa, Deus responde. O profeta apresenta uma segunda queixa, Deus responde.
Deus quer dialogar conosco, Ele quer que Lhe abramos nossos corações, com nossas dúvidas, nossos temores. Ele quer arrazoar conosco, Ele quer que a nossa religião seja uma religião inteligente.
Deus então responde e diz: Eu estou tomando providências. Em breve o povo, os caldeus, os babilônios invadirão este país, destruirão esta nação, este povo irá para o cativeiro e uma nova ordem de coisas será estabelecida num futuro segundo o desígnio divino.

(Hc 1:5): "Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada."

Então vem – eu não vou ler todos os versos, o tempo não nos permitiria – em que Deus descreve então a invasão da parte dos caldeus que viriam com os seus exércitos, os seus cavalos, os seus carros de guerra, seus aríetes, seus baluartes fazer sítio à cidade de Jerusalém e finalmente provocar a sua queda e a deportação daquela população em duas etapas: uma em 597 AC, outra em 586 AC.
O profeta ouve mas não está satisfeito. Ele acha que é impossível que Deus use uma nação ímpia para castigar uma nação menos ímpia. Judá era culpada. Havia de fato muito pecado, muita imoralidade, muita idolatria dentro da sua nação, mas ainda não eram tão culpados como os caldeus. Como, pois, podia Deus usar um povo ímpio para castigar o Seu próprio povo? É segunda dúvida então que ele apresenta a partir do:
Verso 12: "Não és tu desde a eternidade, ó Senhor, meu Deus, ó meu Santo? Não morreremos. Ó Senhor, para executar juízo, puseste aquele povo; tu, ó Rocha, o fundaste para servir de disciplina."
13Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois toleras, os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele? Aí estava o problema para Habacuque. Como é que Deus podia usar o perverso para punir aquele que era mais justo do que ele?
14Por que fazes os homens como os peixes do mar – para Habacuque Deus estava tratando a humanidade como peixes, e o exército babilônico era como uma rede que haveria de pegar todos estes peixes, todos estes povos e levá-los cativos para uma terra estranha.
"Por que fazes os homens como os peixes do mar" – a um povo que glorifica a força militar? É o que ele vai dizer no:
Verso 15: "A todos levanta o inimigo com o anzol, pesca-os de arrastão e os ajunta na sua rede varredoura; por isso ele se alegra e se regozija. Por isso, oferece sacrifício à sua rede".
Ele diz que os caldeus, os babilônios glorificavam a força, a força militar.

O profeta, terminada a sua queixa, de acordo com o cap. 2 verso 1 se coloca sobre uma torre, por assim dizer:
(Hab. 2:1): "Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa."

Aqui Habacuque vai um pouco longe demais. Deus admite que dialoguemos com Ele, mas aqui Habacuque vai mais longe e começa a questionar. Percebe-se um laivo de presunção, uma certa petulância de parte de Habacuque.

Notem as palavras: "vigiarei para ver o que Deus me dirá". Ele já tem a resposta pronta, porque o hebraico não diz "que resposta eu terei à minha queixa", mas que resposta eu darei – ele já tinha premeditado a resposta seguinte à explicação divina. Habacuque estava indo, então, um pouco longe demais nesse espírito de revolta. E Deus tem alguma coisa a lhe dizer:
Verso 2: "O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo."
3Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque certamente, virá, não tardará.

O dever do profeta era transmitir a mensagem divina e não questioná-la; tornar esta mensagem tão clara quanto possível, e não enchê-la de dúvidas e pontos de interrogação.

Lemos então o seguinte diagnóstico de Habacuque no:
Verso 4: "Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele"

O hebraico diz realmente: "Aquele que está estufado, aquele que está cheio de si a sua alma não é reta nele". O profeta estava ficando cheio de si, confiante na sua inteligência e competência para questionar o próprio Criador em Seus planos e propósitos. "Aquele que está cheio de si a sua alma não é reta nele."

E agora vem a grande declaração: "mas o justo viverá pela sua fé."

Aí estava o segredo, então, a grande verdade que será citada pelo apóstolo S. Paulo no Novo Testamento como fundamento da doutrina da justificação pela fé. Mas neste momento era o profeta que precisava de fé – ele precisava confiar, como ele não confiava ainda, na justiça da Providência divina. "o justo viverá pela sua fé." Se ele confiasse plenamente em Deus ele não estaria se debatendo em dúvidas como ele estava se debatendo na primeira parte do seu livro.

A seguir, Deus diz que os caldeus um dia seriam castigados. Cinco ais são pronunciados sobre os caldeus.

(Hc 2:6, 2ª p.): "Ai daquele que acumula o que não é seu (até quando?), e daquele que a si mesmo se carrega de penhores! Não se levantarão de repente os teus credores?"

Eu estou lendo os versos 6 e 7. Os caldeus, os babilônios subjugando muitos povos, carregando os despojos de guerra estavam contraindo uma dívida de ódio e vingança que somente poderia ser paga com sangue – é o que o profeta adverte aqui através da inspiração divina. Um dia os credores, todas essas nações subjugadas se levantariam para exigir o seu direito.

O 2º ai: (Verso 9): "Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos, para pôr em lugar alto o seu ninho, a fim de livrar-se das garras do mal!

A Babilônia como a Assíria tinham-se enriquecido despojando nação após nação, fizeram da guerra uma indústria, podemos dizer. Cada expedição militar – e faziam expedições quase todos os anos – era para arrecadar tributos e despojos dos povos vizinhos, enriquecendo-se a si mesmos. Mas a advertência aqui é a seguinte: o conquistador não terá o prazer de desfrutar o fruto de suas conquistas; o remorso não lhe daria nenhuma oportunidade de desfrutar em paz riquezas roubadas dos seus vizinhos. Os palácios construídos com toda esta riqueza seriam palácios assombrados.

Diz o verso 11: "A pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá do madeiramento."

É a voz da consciência. À noite esse rei, esse conquistador estaria vendo todos os cadáveres que estavam juncando os campos de batalha por causa da sua ambição, e o remorso não lhe permitiria dormir tranquilamente, nem desfrutar toda essa riqueza.

O 3º ai tem que ver com o fato de que não foi o plano de Deus que as nações trabalhassem pra nada. É assim que diz:
(Verso 13): "Não vem do Senhor dos Exércitos que as nações labutem para o fogo e os povos se fatiguem em vão!"

Não foi Deus que escolheu isso. Qual foi o resultado das conquistas de Napoleão? Muitas vitórias iniciais dos nazistas. Onde estão os impérios da antiguidade fundados sobre o sangue? Foi tudo em vão. Toda aquela glória se passou. Mas não foi do Senhor "que as nações labutem para o povo e os povos se fatiguem em vão!"

No verso 15 temos o 4º ai: "Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor"

Aqui temos um simbolismo que encontramos em vários profetas: é o cálice amargo da guerra e da destruição. Jeremias vai usar esta expressão em Jeremias 25, onde Jeremias recebe a incumbência de passar este cálice de povo a povo, terminando com Babilônia. Então, Babilônia que dera este cálice amargo da guerra e da mortandade a muitos povos um dia também teria de beber este cálice.
(Verso 16): "Serás farto de opróbrio em vez de honra; bebe tu também e exibe a tua incircuncisão; chegará a tua vez de tomares o cálice da mão direita do Senhor".

Lembram da mesma coisa em Isaías 51:22 onde se diz que Jerusalém já tinha tomado o cálice amargo da guerra, do exílio, deportação; chegara agora a vez de outros povos passarem pela mesma experiência.

E finalmente o 5º ai é sobre os deuses de Babilônia. E Habacuque vai usando o mesmo recurso de Isaías e outros profetas – o recurso do ridículo. É possível que muitos judeus tinham ido para Babilônia e estavam impressionados com a pompa e a grandeza da religião daquele grande centro, mas o profeta vai dizer:
(Verso 19): "Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum."

Deus não é como os ídolos das nações, não é como os ídolos de Babilônia, que podem ser muito bonitos por fora – ouro e prata – mas por dentro são pedra e pau, são inertes. Não podem fazer bem nem mal, como diria o profeta Isaías. Ai daqueles, portanto, que fazem desse ídolos o seu objeto de adoração. Ao contrário, todos deviam lembrar-se do:
Verso 20: "O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a Terra."

É como se o profeta dissesse: Deus é soberano, do Seu santo templo Ele governa todo esse Universo, Ele tem todos os acontecimentos em Suas mãos, Ele é o Senhor da História. "O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a Terra."

O capítulo 3 contém o que se chama uma teofania, uma revelação da glória divina. Habacuque necessitava dessa revelação. Ele ainda entretinha dúvidas, ele precisava ter uma visão como nunca tivera antes do poder divino. E ele descreve então essa teofania em poesia, com toda a liberdade poética. E essa revelação divina aparece na forma de uma tempestade que começa lá no sul, faz tremer as cortinas de Midiã, e as tendas de Cusã (V. 7) estão em aflição; e depois a chuva cai em torrentes. Não é comum cair muita chuva no Próximo Oriente, mas ela pode cair subitamente e tornar-se uma cena pavorosa, com relâmpagos riscando o céu, a escuridão total encobrindo o firmamento.

(Hc 3:11): "O sol e a lua param nas suas moradas, ao resplandecer a luz das tuas flechas sibilantes" – são os relâmpagos que riscam os céus –ao fulgor do relâmpago da tua lança."
12Na tua indignação, marchas pela terra, na tua ira, calcas aos pés as nações.
13Tu sais para salvamento do teu povo, para salvar o teu ungido.

Era preciso então essa manifestação gloriosa, espetacular do poder divino e do amor de Deus para tocar as cordas mais sensíveis do coração de Habacuque.

E no verso 16 então lemos da reação do profeta: "Ouvi-o, e o meu íntimo se comoveu, à sua voz, tremeram os meus lábios; entrou a podridão nos meus ossos, e os joelhos me vacilaram" – e ele conclui – "pois, em silêncio, devo esperar o dia da angústia, que virá contra o povo que nos acomete."
E aquele sentimento inicial de revolta, porque Deus aparentemente nada fazia para sustar o avanço do inimigo, o profeta aqui passa para uma fase mais elevada – a fase da resignação: "pois, em silêncio, devo esperar o dia da angústia, que virá contra o povo que nos acomete."

Mas Habacuque deve tomar um passo ainda para a frente, e ele toma nos:
Versos 17 e 18: "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação."
Ainda que tudo vá mal, ainda que a ordem social desmorone, que a realeza desapareça, que o templo seja incendiado, ainda que tudo corra mal, ele numa poesia bucólica expressa sua fé e triunfo ao dizer: todavia, apesar de todas as circunstâncias, "eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação."

Depois dessa queimação de fé o profeta não se contenta mais com mera atitude de resignação ante sua sorte – ele a aceita alegremente. A resignação é passiva, simplesmente cruza os braços em face do que é irremediável; a aceitação, ao contrário, é positiva e construtiva – faz da perda um degrau na escada do aperfeiçoamento moral e espiritual. A resignação é ausência de revolta; a aceitação é uma colaboração com Deus para nosso crescimento cristão.

Jesus não Se resignou a tomar o cálice do sofrimento mais atroz, mas o aceitou depois de orar a respeito três vezes. Se Jesus precisou orar três vezes para aceitar o sofrimento, quanto mais vezes precisaremos nós!

O Dr. Paul Tournier (famoso psiquiatra de Genebra, na Suíça) conta que foi convidado a visitar um velho amigo em sua última enfermidade. Ele e outro médico procuraram rodear o doente de toda afeição. A sós, o paciente disse com dificuldade: "Há algo que não entendo." E, como o Dr. Tournier diz, teria sido inútil fazer-lhe qualquer pergunta, ou começar uma discussão com alguém no leito de morte. O que o Dr. Tournier fez foi: aproximou-se e lhe disse calmamente:
– Você sabe que a coisa mais importante neste mundo não é entender, mas aceitar.
Com um sorriso, ele murmurou:
– Sim, é verdade ... Eu aceito tudo.
Foi quase a última coisa que pronunciou. À noite acordou-se subitamente, assentou-se na cama e disse: "Vou indo para o Céu", e morreu logo depois.

Mesmo entre pessoas de idade, há muitos que têm medo da morte, mas não estão dispostos a admiti-lo. Este medo é explicado entre pessoas que não professam o cristianismo, pois para eles a morte é a grande incógnita, é algo irreversível e totalmente irremediável. Ao contrário, cristãos estão no dever de aceitar a morte com muito mais serenidade.

Não somente a morte é universal e inevitável neste mundo de pecado, mas em muitos casos a libertação de sofrimentos atrozes.

Um belo exemplo de aceitação e não apenas resignação em face da morte é o de Simeão. Diz o Evangelho que se tratava de um homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele. Ao tomar nos braços o Menino Jesus, louvou a Deus dizendo: "Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação." Lucas 2:29 e 30.

Simeão estava pronto para partir. Já recebera o maior dom que a graça divina lhe podia outorgar, já vira a salvação prometida por Deus na dádiva de Seu Filho. Não precisava de revelação maior, estava pronto a descansar, confiando inteiramente no Deus de sua salvação. Não estava de tal modo apegado à vida, que lamentasse o momento da partida.

"Há tempo de nascer e tempo de morrer" diz o sábio em Eclesiastes 3. Tempo de abraçar a vida com todo o entusiasmo da juventude e tempo de se desapegar da vida, numa aceitação total do programa divino que inclui tanto a vida como a morte.

O apóstolo Paulo aos 60 anos tinha atingido maturidade suficiente para poder escrever o que lemos em Filipenses 1:21 – "Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro." Paulo vivera uma vida intensa. Trabalhara como poucos na pregação do Evangelho. Sofrera como poucos na Causa de Cristo, combateu com entusiasmo o bom combate. E estava pronto a depor as armas se assim fosse a vontade de Deus.

A carta aos Filipenses foi escrita numa prisão quando a espada do executor parecia uma possibilidade iminente. Não obstante, é uma carta que recende o perfume de uma perfeita paz e aceitação da vontade divina. Uns poucos meses a mais ou a menos pouca diferença faria para quem dedicara sua vida a Deus numa entrega completa. É como se Paulo dissesse: "Se Deus me quiser conservar em vida um pouco mais, Sua vontade seja feita; se não, estou pronto para partir."

Naturalmente, exige fé para se dizer isto. Exige uma total aceitação do plano divino. Nosso alvo, então, devia ser: Não apegar-se à vida como um bem inalienável, mas submeter-se com confiança ao programa divino.

O cirurgião alemão Zauer Bruch disse certa vez: "A fé profundamente arraigada na alma tem mais eficácia que todo o conhecimento filosófico. Dor e sofrimento só encontram seu sentido liberador na fé cristã."

E assim é, na verdade. É a fé que torna a aceitação possível nos momentos mais críticos da existência.
Depois de aprender a lição da fé, Habacuque pôde dizer em face das maiores adversidades: "todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação."

Como enfrentamos nós a doença e a enfermidade, e particularmente uma enfermidade grave? Com resignação filosófica ou com fé cristã? Há aí uma enorme diferença. Não é enfrentando a enfermidade e a dor com estoicismo que honramos a Deus, mas enfrentando-a com perfeita submissão à Sua vontade.

O grande pensador Pascal que se distinguiu tanto por sua inteligência como por sua fé nos legou a seguinte oração para o bom uso da doença: "Tu me desses saúde, Senhor, para que eu Te servisse, e eu a usei de modo egoísta; agora me envias enfermidade para corrigir-me. Ajuda-me a não usá-la para evitar-Te por minha impaciência."

Há, então, o que se pode chamar o bom uso da enfermidade. Aceitamos nós a enfermidade como um agente divino para o nosso aperfeiçoamento espiritual ou simplesmente nos resignamos ao sofrimento como algo opaco e incompreensível, ou pior ainda num espírito de revolta, como se uma grande injustiça nos tivesse ocorrido.

A enfermidade em si é neutra – é o uso que dela fazemos que determina se ela será um degrau na escada de nosso crescimento cristão ou uma oportunidade dada ao adversário para apoucar nossa fé e compromisso com Deus.

"Todos têm que sofrer", disse uma paciente ao seu médico. "Como se pode evitar a amargura?", disse ela. "Pela aceitação. Como evitar o ódio?

Pelo perdão. Como evitar a ansiedade pelo dia de amanhã, como evitar o egoísmo e a cobiça? Pela entrega de si mesma à vontade de Deus."

Vamos permitir que uma enfermidade ou um grande desapontamento nos amargure o espírito? Ou vamos, mediante uma calma confiança na bondade de Deus, aceitá-los, não apenas resignadamente mas como uma oportunidade para aprofundamento espiritual?

Há muitos que se casam sem aceitar plenamente o cônjuge tal qual é. Há pessoas que durante anos lutam para mudar o cônjuge à sua imagem. Outros mesmo antes do casamento já imaginam que reformas vão efetuar no marido ou na esposa. Dos lares mais felizes os esposos não são necessariamente idênticos em temperamentos ou gostos; as suas diferenças se complementam em vez de se opor:
Um gosta de música clássica, o outro gosta de música religiosa. Há lugar e tempo para ambas.
O marido é mais econômico, a mulher mais liberal – a virtude provavelmente está no meio-termo, nem muito à direita, nem muito à esquerda. Há ocasiões em que o espírito de economia deve prevalecer, e outras em que o espírito de liberalidade.

A vida no lar se torna mais rica justamente porque há variedade em vez de monotonia. Um dos segredos do lar feliz é a aceitação mútua, que sempre resulta em enriquecimento mútuo.

Há pessoas que são infelizes porque não se aceitam a si próprias inteiramente. Há indivíduos que não aceitam o fato de serem muito baixos, ou muito altos, ou muito gordos, ou muito magros, loiros ou morenos. Como resultado, essas pessoas se sentem frustradas e desenvolvem um complexo de inferioridade, quando a verdade é que outras pessoas pouca importância dão a esses traços físicos e são muito mais impressionados com as qualidades morais ou intelectuais que elas possuem. Quem pergunta se Madre Teresa é bonita ou feia, quando para milhares de indigentes de Calcutá ela tem sido a personificação da bondade.

Aceito eu a religião e a disciplina que ela me impõe de coração ou simplesmente me resigno a ela? Resignar-se à religião é relegá-la a um plano secundário, onde a resignação lança um véu de pesar sobre tudo que toca. Onde a resignação entra, o entusiasmo se esvai. Mas a religião que não é aceita e praticada de coração nunca traz verdadeira paz e alegria.

Paulo não se resignou a seguir a Cristo. Para Paulo o caminho de Cristo não era uma opção entre outras, para ele era a única opção. Para ele, viver era Cristo – era a razão suprema de sua vida. Paulo era um discípulo entusiasmado com sua fé em Cristo, e portanto, inteiramente feliz. "Vivo não mais eu, mas Cristo viver em mim" dizia Paulo. E Paulo, no entanto, não estava morto, pois ele continua: "e a vida que agora vivo, vivo-a na fé do Filho de Deus". Paulo vivia a vida mais plena, porque sua devoção a Cristo era total.

Efraim era a tribo líder do reino de Israel. Infelizmente, Efraim liderou a nação não só no caminho da prosperidade mas no caminho da apostasia. Disse o profeta Oséias: "Efraim é um pão que não foi virado." Como resultado, estava meio cru meio assado – nem bem cá nem bem lá. Sua lealdade era dividida – queria servir a Deus e ao mesmo tempo servir aos ídolos. Era como muitos membros que têm um pé fora, outro pé dentro da igreja. Tais membros nunca podem ser felizes, porque nunca aceitaram a Cristo totalmente.

Todos nós já observamos andorinhas pousadas serenamente sobre fios de alta tensão. A voltagem que teria fulminado um homem não perturba a sua tranquilidade. O perigo está em ter contato com o fio com uma mão e toca o chão com o pé. Quando isto acontece, uma descarga atravessa o corpo e é quase sempre fatal.

Quando estive no Líbano pela segunda vez em 1988, fui convidado para uma situação de emergência para ficar um ano, mas fiquei só 5 semanas. A guerra civil tornou impossível continuar com a nossa escola aberta, e fechou-se depois de 5 semanas. Os sírios durante uma semana estiveram bombardeando o setor cristão de Jerusalém, com canhões postados no alto das montanhas do Líbano e o setor cristão lá embaixo, eles podiam escutar as bombas silvando através do ar, os obuses explodindo lá embaixo, provocando vítimas e estragando prédios e mais prédios. Mas nunca lançaram uma bomba na escola, embora ela estava lá no alto da colina e eles podiam perceber dezenas e dezenas de obuses passando por minuto.

Mas um dia os sírios na montanha perceberam um movimento perto da entrada da escola, achavam que o inimigo estava querendo tomar vantagem do terreno, então dirigiram uma rajada de metralhadora pesada na direção da escola e do portão. Essa rajada de metralhadora cortou um fio de alta tensão, e o fio caiu sobre o nosso porteiro que foi fulminado instantaneamente.
É igualmente fatal para um crente ter um pé no mundo e outro na igreja; o resultado pode não ser fulminante, mas é certamente fatídico.

Bem diferente da disposição de alguns discípulos que queriam seguir a Jesus com o coração dividido era a atitude do Mestre ao cumprir o programa que traçara para Si.

Lucas 9:51 – "E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém."

São palavras bonitas: a intrépida resolução de ir a Jerusalém – isso se estampava no semblante de Cristo. A caminho alguém O abordou e Lhe disse: "Seguir-te-ei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa." (Luc. 9:61). O "mas" fatal traía um coração dividido.

Quantos de nós dizemos: "Seguirei a Jesus, MAS primeiro quero casar-me." Ou: "Seguirei a Jesus, MAS primeiro quero aposentar-me." Ou: "Seguirei a Jesus, MAS depois de ter resolvido este problema ou aquele."

Eu me lembro dos velhos tempos de um interessado de muitos anos na igreja, mas que sempre dizia: "Bem, eu vou me batizar quando eu me aposentar." Eu creio que aquele dia nunca chegou. São pessoas que querem seguir a Cristo com reservas. MAS é uma palavra que pode ser perigosa.
Lendo as intenções daquele candidato Jesus lhe replicou: "Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus." (Luc. 9:62).

Esse candidato a discípulo foi rejeitado porque lhe faltava a qualidade essencial, a saber, a dedicação absoluta à causa de Cristo. Não podemos servi-Lo com o coração dividido.

A filosofia casuística dos jesuítas lhes permitia prestar juramento com reservas mentais, o que lhes dava possibilidade de explicar-se de compromissos solenes se a situação o exigia. Não é possível, porém, seguir a Cristo com reservas mentais. Ele conhece o intento mais oculto do coração. Hipócritas podem enganar a seu próximo ou enganar-se a si mesmos mas não podem enganar a Deus. Dizem as Escrituras em:
II Crônicas 16:9: "Os olhos do Senhor, passam por toda a terra para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dEle."

Deus Se mostrará forte para aqueles cujo coração é totalmente dEle.

É nosso coração totalmente dEle? Ou há áreas em nossa vida sobre as quais queremos manter uma reserva de jurisdição?

Recapitulemos brevemente então o estudo dessa manhã: Habacuque começa seu livro questionando a justiça divina em vista da prosperidade dos ímpios; questiona em seguida a sabedoria divina em vista da escolha que Deus fez dos caldeus para castigar o povo de Israel – a seu ver menos culpado que os caldeus. Habacuque não foi o primeiro a questionar os caminhos de Deus. Jeremias já o tinha feito no capítulo 12 de seu livro; o salmista o fizera no Salmo 73.

Deus não nos censura por Lhe abrirmos o coração agitado por dúvidas e temores. Como disse alguém: "Mais vale uma dúvida honesta do que uma crença insincera." Deus não promete tudo explicar, mas Ele promete ouvir. A Habacuque Deus dirá: "O justo viverá pela sua fé." Ele aceitará a vontade divina não porque compreenda sempre os caminhos de Deus mas porque confia em Seu amor. Nesta vida, diz o apóstolo S. Paulo, andamos por fé e não pelo que vemos.

Deus não responde diretamente as dúvidas de Habacuque. Respondê-las seria dispensar a fé e substituí-las pela lógica. Deus dá a Habacuque algo melhor do que argumentos: dá-lhe uma visão de Sua glória e poder. Como resultado, Habacuque não se resigna apenas a seguir o plano divino para a sua vida mas o aceita e nele se regozija. As tragédias e desapontamentos desta vida não serão mais um empecilho à sua fé. Deste momento em diante Habacuque não mais tropeça de dúvida em dúvida, mas caminha pela fé. Não mais pede para ver o caminho adiante, mas que Deus o seguro com sua mão forte. Com uma nova visão do poder e do amor de Deus, Habacuque pode agora declarar como leio:
Verso 19: "O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar vitoriosamente."

Antes o profeta andava trôpego, sob o peso de dúvidas e incertezas. Aprendeu a aceitar o fato de que o Senhor Deus está no Seu santo templo, em perfeito controle da situação, em perfeito controle de nossas vidas. Aprendeu a aceitar a vontade divina e não apenas a ela resignar-se. De agora em diante podia andar vitoriosamente.

Que o Senhor nos ajude a extrair desse pequeno estudo sobre o profeta Habacuque esta lição de fé, de confiança no amor de Deus que nos levará não simplesmente a nos resignar a sermos seguidores de Cristo, mas a aceitar o discipulado com alegria, com uma fé vitoriosa.

O conjunto vocal nos cantará agora um hino cujo tema principal é que Deus tem uma solução para cada problema, não há dificuldades tão grandes nesta vida para as quais Deus não tenha uma solução divina.

CONJUNTO: Não há problema que Deus não solucione.


DR. SIEGFRIED SCHWANTES

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