SALMO 1 - A PRIMAZIA DA PALAVRA

1 Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2  Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. 3  Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. 4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. 5  Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. 6  Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá. Este poema é uma introdução de encaixe ao livro de 150 salmos. Revela o padrão básico da sabedoria e adoração de Israel. A vida é vista não nos momentos isolados do presente, mas na perspectiva da eternidade, na visão de Deus. O autor conecta vida humana intimamente com a vontade e o coração de Deus. O salmo lança um apelo desafiador a Israel – e a to

Sermão de Ezequiel


Nesta semana de ênfase espiritual que realmente venhamos a compreender melhor o trabalho dos profetas como grandes pioneiros do Evangelho.

Freud, o pai da Psicanálise, escreveu um livro sobre Moisés, e nesse livro ele expressa admiração pelo fato de que a nação israelita sobreviveu às vicissitudes do cativeiro em Babilônia. E depois de analisar os fatores, ele chega à conclusão de que os que mais contribuíram para a sobrevivência deste povo foram os profetas. Estes dois profetas merecem crédito – seriam os profetas Jeremias e Ezequiel.

É sobre Ezequiel que desejamos falar esta noite. Jeremias será o objeto de uma outra palestra durante a semana.

Agostinho em seu livro Confissões, em que ele descreve a sua peregrinação espiritual, a certa altura ele diz, ele entremeia as confissões (é uma autobiografia) com orações, e ele diz então a uma certa altura: "Dá, ó Deus, o que pedes, e pede o que queres." Agostinho tinha descoberto em sua experiência que Deus nunca pede nada sem nos conceder graça para obedecermos ao Seu mandamento.

Vejamos então como Ezequiel confirma esse dito de Agostinho: Deus pede mas sempre nos dá graça para obedecer.

Na primeira leitura, o livro de Ezequiel parece um livro árido e de difícil compreensão. Não possui a beleza dos livros de Isaías e Jeremias, mas sua obscuridade é apenas aparente. Foi escrito por um sacerdote exilado para Babilônia na grande deportação de judeus que ocorreu no ano de 597 AC., quando Jerusalém foi tomada pelo exército de Nabucodonosor, e a nação que ainda sobrevivia as dificuldades do sítio, foi em grande parte, especialmente a aristocracia, transportada para Babilônia.

As declarações do profeta sob a inspiração do Espírito Santo vem na forma de oráculos – uns curtos, outros mais longos, um bom número deles datados. É possível, então, acompanhar sua carreira profética através de um período de aproximadamente 25 anos. Pouco sabemos da personalidade do profeta, exceto que era sacerdote, e portanto, muito interessado em tudo o que se relacionava com o templo e seus serviços.

Mais do que outros profetas, Ezequiel descreve a profanação do templo pelos próprios judeus, profanação esta que refletia a gravidade da apostasia nacional, e que não podia deixar de acarretar os juízos divinos sobre a nação e o templo.

Coube a Ezequiel pregar, não a seus conterrâneos na Judéia, mas aos exilados em Babilônia em meio dos quais vivia. Tratava-se de um povo profundamente abalado em sua fé pelo desastre que atingira a nação, pois não podiam compreender como Deus tinha abandonado o povo eleito a um destino tão trágico. A explicação mais corrente na época era que o deus da nação vitoriosa na guerra era um deus mais forte. Nesse caso – Marduk – o chefe do panteão babilônico devia ser mais forte do que Jeová, cujo povo havia sido derrotado e exilado. Convencer este povo de que seus pecados é que tinham acarretado o desastre nacional e não a falta de poder de Jeová não era tarefa fácil.

Muitas de suas convicções religiosas mais profundas tinham sido abaladas quando Jerusalém caiu em mãos de estrangeiros e os vasos do templo foram levados como despojo de guerra. Ezequiel mesmo, cujo nome significa "Deus é a minha força", deve ter ficado consternado ante tamanha calamidade.

Como fortalecê-lo para que ele, por sua vez, comunicasse ao povo uma mensagem de advertência e de esperança? Jeová lhe daria uma visão da glória divina como não havia sido dada a outro profeta.

Ao ser chamado ao seu ofício profético, Isaías também tivera uma visão de Deus assentado sobre um trono alto e sublime, rodeado de serafins que cantavam: "Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos". Mas Isaías descreve esta visão em poucas palavras, em poucos versos. A visão dada a Ezequiel, ao contrário, ocupa todo um capítulo que deslumbra o leitor pela abundância de pormenores.

Na literatura rabínica esse capítulo é conhecido como o capítulo da merkabá, da carruagem divina que aparentemente é descrita nesse capítulo de um modo enigmático. Não é nossa intenção analisar esta visão, pois a linguagem humana é inadequada para descrever as realidades eternas. O importante é compreender que essa visão gloriosa tinha por fim qualificar o profeta para a missão árdua que o aguardava. Diante da incredulidade de seus ouvintes, o profeta devia poder falar com a mais profunda convicção.

O contato com uma civilização muito mais adiantada e esplendorosa do que a sua deve ter atuado como uma ducha fria sobre a fé de muito israelita. Em comparação com a magnificência de Babilônia, Jerusalém não passava de uma capital provincial. Em comparação com os templos de Babilônia que durante séculos foram o centro religioso da Mesopotâmia, o templo de Jerusalém parecia um santuário insignificante. Reerguer a fé deste povo que atingira sua escala mais baixa, exigia um poder de persuasão mais que humano. Mas Deus dá ao profeta a qualificação necessária.

Uma das grandes verdades que se destaca no livro de Ezequiel é que Deus dá o que Ele pede. E Ele comissionou o profeta com uma tarefa extremamente difícil, mas também lhe deu graça para levar adiante sua missão. Sua palavra seria colocada na mente e no coração do profeta. Ele foi convidado a comer um rolo, provavelmente de uma maneira simbólica.

Leio em Ezequiel 2, verso 8 em diante: [Ez 2:8 - 3:3]
8Tu, ó filho do homem, ouve o que te digo, não te insurjas como a casa rebelde; abre a boca e come o que eu te dou.
9Então, vi, e eis que certa mão se estendia para mim, e nela se achava o rolo de um livro.
10Estendeu-o diante de mim, e estava escrito por dentro e por fora; nele estavam escritas lamentações, suspiros e ais.
1Ainda me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, vai e fala à casa de Israel.
2Então, abri a boca e ele me deu a comer o rolo.
3E me disse: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Eu o comi, e na boca me era doce como o mel.

Comer o rolo profético significava aceitá-lo e assimilá-lo. Para se tornar um porta-voz eficaz, a mensagem precisava se tornar uma parte integrante do profeta. Num sentido profundo o profeta devia encarnar a mensagem que pregaria. Ele estava em certo sentido antecipando o dia em que o Verbo Se faria carne.

Deus ia privar o Seu povo de um santuário mas ia oferecer-lhes algo melhor. O Senhor ia pedir a Israel que exercesse fé mesmo sem o benefício de um santuário visível e de seus serviços. O templo em Jerusalém, símbolo e penhor da presença divina com o Seu povo, ia ser destruído. Israel o tinha profanado com suas abominações e sua idolatria.

Podemos ver no capítulo 8 a maneira indigna, sacrílega com que trataram aquele santuário. Espiritualmente já o tinham destruído por seus pecados; e o inimigo não faria mais do que consumar o que tinham iniciado. Mas Deus promete servir-lhes de santuário na Terra para onde os tinha lançado. É o que lemos em:
Ezequiel 11 verso 16: "...Todavia, lhes servirei de santuário, por um pouco de tempo, nas terras para onde foram."

Melhor do que qualquer templo visível seria a Sua presença com eles mesmo na terra do exílio. Suas orações ainda seriam atendidas de acordo com a promessa: "Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração."

(Jer. 29:13). O que poderia ter parecido uma calamidade irreparável, ainda poderia se tornar um degrau na escada de seu crescimento espiritual. Podiam aprender a importante lição de que Deus é Espírito e que aqueles que O adoram podem e devem adorá-Lo em espírito e em verdade. Valia a pena perder um templo material e ganhar a experiência inestimável da onipresença divina.

É muitas vezes através de perdas materiais que ganhamos a visão de realidades eternas. Frequentemente Deus nos priva de um bem menor para nos conceder um bem infinitamente maior. Perder o templo, que era a delícia de seus olhos, era com efeito uma calamidade; mas se em seu lugar ganhasse uma visão mais espiritual de Deus, a perda se transformaria numa bênção inigualada.

No capítulo 20 que descreve a longa história de apostasia de Israel, nós lemos que Deus fez aquela nação vários pedidos, quase nunca atendidos. Um desses pedidos se encontra no:
Verso 20 quando Deus disse a Israel: "Santificai os Meus sábados, pois servirão de sinal entre Mim e vós para que saibais que Eu sou o Senhor, vosso Deus."

Deus, então, pede que santifiquemos o sábado, mas em compensação Ele nos deu o sábado como o sinal e penhor de que é Ele que nos santifica, como diz o:
Verso 12: "Também lhes dei os Meus sábados, para servirem de sinal entre Mim e eles, para que soubessem que Eu sou o Senhor que os santifica."

Deus nada nos pede que não seja para nosso bem. Deus pede que façamos uma pausa em nossa azáfama semanal, para ter uma oportunidade de refazer a Sua imagem em nós. Ignorando o repouso sabático, o homem está se destruindo física e espiritualmente. No Calendário, em sua ronda semanal, o sábado é o dia em que a eternidade invade o tempo. Neste dia como em nenhum outro somos feitos cônscios de que: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus." (Mt 4:4, RC). Daí ser o sábado como um oásis em meio do deserto, um dia em que nossa alma é refrigerada em comunhão com seu Criador.

Deus quer santificar-nos, quer fazer-nos apto para viver em Sua presença santa. É preciso então que Lhe demos a oportunidade. É voltando as costas ao mundo que nos solicita de mil maneiras que afirmamos nosso desejo de escapar à sua tirania, para nos colocar sob a soberania de Deus. Se nos for dada a graça de um dia estarmos no Céu, lamentaremos a maneira negligente com que tratamos a oportunidade de uma comunhão mais íntima que Deus nos oferecia cada sábado.

Portanto, se Deus pede que honremos o sábado é para nos abençoar e enriquecer em todo o sentido. Deus pede para dar.
Em Ezequiel capítulo 18 encontramos um dos pedidos mais extraordinários que Deus faz ao homem. O capítulo 18 é conhecido como o capítulo que trata da Doutrina da Responsabilidade Individual. É a resposta divina que corria de boca em boca: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram." Ezequiel 18, verso 2. Era a maneira como uma geração impenitente queria justificar-se a seus próprios olhos. "Outros pecaram", diziam, "e nós sofremos as consequências."

A resposta do profeta a esta interpretação errônea dos fatos se encontra no:
Verso 20: "A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o pai a iniquidade do filho."
Não é verdade – diz ele – que uma geração peca e outra arca com as consequências. Se vocês sofrem é por causa de seus pecados – dizia Ezequiel. "Porque Deus não tem prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto, convertei-vos e vivei." Verso 32.

Felizmente, é nesse contexto que o Senhor através de Seu profeta faz o apelo quase inaudito do:
Verso 31: "Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes e criai em vós coração novo e espírito novo; pois por que morreríeis, ó casa de Israel?"

A dificuldade em atender a esse ditame divino desafia nossa imaginação. Já o profeta Jeremias exclamava: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto. Quem o conhecerá?" Jeremias 17, verso 9.
Felizmente, o homem não é deixado a sós diante de uma tarefa impossível. Se no contexto do capítulo 18, Deus pede que o homem crie em si coração novo, já no:
Capítulo 36, verso 26, Ele dirá estas belas palavras: "Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne."

O homem não pode criar um coração novo, mas pode aspirar a possuir um coração novo; pode reconhecer sua total dependência da graça divina para a sua salvação. E este reconhecimento, contanto que seja sincero abre o caminho para que Deus efetue o milagre da regeneração à nosso favor. "Sem Mim, nada podeis fazer" disse Jesus; mas com Cristo tudo é possível, mesmo o transplante do coração de carne no lugar de um coração de pedra.

Como disse um teólogo alemão: "Com a tarefa Deus também concede a graça para realizarmos a tarefa."

O milagre realizado diremos com o apóstolo: "Não eu, mas a graça de Deus em mim" (1Co 15:10) é que criou este coração novo. Como o homem não pode de si mesmo acrescentar um côvado ao curso de sua vida, assim não pode de si mesmo mudar seu coração. Já o profeta Jeremias tinha declarado: "Pode acaso o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas. Então podereis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal." (Jr. 13:23). Em outra passagem, Jeremias vai dizer que o pecado é como a mancha indelével que com a maior boa vontade o homem não pode jamais lavar. Jeremias cap. 2, verso 22.

Mas aquilo que o homem não pode fazer, Deus promete fazê-lo se nós consentirmos. Deus nos assegura através do profeta Isaías: "Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã." Isaías 1 verso 18.

Se o que Deus pede do homem através dos profetas parece irrealizável, o que Cristo pede de nós no Sermão da Montanha é de estarrecer ainda mais. Cristo não rebaixou em nada a norma de justiça requerida de todo ser humano. Notem suas palavras em:
Mateus 5, verso 20: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais no reino dos céus."

Jesus não estava rebaixando as normas, ao contrário, Ele está as colocando a um nível inatingível pelo homem desamparado. Segue no Sermão da Montanha uma série de: "Ouvistes o que foi dito aos antigos"
que devem ter deixado os ouvintes pasmos. Notem alguns destes: "ouvistes":
Mateus 5, verso 21 e 22: "Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento".

Ou nos Versos 27 e 28: "Ouvistes que foi dito: Não adulterarás; Eu, porém, vos digo: Qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela Ou ainda nos Versos 43 e 44: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo; Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem."

Mais espantosa ainda foi a declaração do Verso 48: "Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste."

Deus espera mais de Seus filhos na nova dispensação do que na dispensação mosaica. Os israelitas eram como crianças na escola primária; Deus nos trata agora como adultos. Se os israelitas tinham a Lei e os Profetas, nós temos tudo aquilo e muito mais. Temos a luz adicional dos ensinos de Cristo e dos apóstolos.

Qual era, pois, o propósito de Jesus no Sermão da Montanha? Era, sem dúvida evidenciar a bancarrota do legalismo farisaico e levar Seus ouvintes a reconhecer a impossibilidade do homem estabelecer sua própria justiça. Cristo queria levar os homens a desesperar de si mesmos, então confiar inteiramente na graça divina. O Deus que pede justiça, Ele mesmo Se oferece como "Justiça nossa". Ele que requer santidade, promete renovar e santificar nossos corações. Não há, pois, contradição entre o ensino dos profetas e o ensino de Cristo. Ao contrário, o ensino dos profetas constitui uma preparação para o Evangelho.

Euzébio, o pai da História Eclesiástica, o primeiro a escrever uma História da Igreja Cristã para os primeiros três séculos, ele tem uma interpretação da História que se pode resumir: Toda a história da humanidade foi uma preparação para o Evangelho. E mais ainda: A história israelita foi uma preparação para a vinda de Cristo. Jesus não veio revogar a Lei e os Profetas, mas pôr em evidência a profundeza espiritual do seu conteúdo.

Outra grande lição do livro de Ezequiel é a seguinte: O Deus que castiga é também o Deus que restaura.

O livro de Ezequiel pode ser dividido em três partes:
Os primeiros 24 capítulos falam da destruição próxima do Reino de Judá e do exílio em babilônia;
Os capítulos 25 a 32 são profecias contra nações estrangeiras.
E do capítulo 33 ao fim, ao capítulo 48 são profecias de restauração. A palavra final não é uma palavra de destruição, mas uma palavra de restauração.

É evidente que Deus não tinha prazer na destruição de Judá do mesmo modo que Ele não tem prazer na morte do pecador. Judá se tinha corrompido de tal maneira que Deus não tinha outro recurso senão submeter seu povo ao fogo purificador do colapso nacional e do exílio em Babilônia. Mais de um profeta compara o povo de Judá à prata adulterada com chumbo. Seria, pois, necessário jogar esse metal impuro no cadinho a fim de que no fogo do sofrimento e da tribulação o bom metal se separasse de sua impureza.

Mas uma vez que o povo tivesse efetuado o seu propósito, um remanescente devia voltar do exílio em Babilônia e dar ao mundo novamente a luz do conhecimento de Deus. Esta era a grande missão da nação israelita: dar a luz do conhecimento de Deus.

No capítulo 34 o profeta atribui a calamidade nacional a seus dirigentes, aqui chamados "pastores infiéis". Mas debaixo da palavra "pastor" devemos entender o rei, príncipes, dirigentes políticos, os dirigentes religiosos. Era costume dos reis da Mesopotâmia, do Oriente Médio se considerarem os "pastores" do seu rebanho. Era uma bela metáfora. O rei era o pastor responsável pelo bem-estar do seu rebanho, e assim eram os guias religiosos.

Mas esses "pastores" são acusados de se terem "apascentado a si mesmos" e não ao rebanho. (Ez 34:2). Não fortaleceram as fracas, não curaram as doentes, não ligaram a quebrada, não buscaram a desgarrada e perdida, mas dominaram sobre as ovelhas com rigor e dureza. Cap. 34 verso 4.

Como resultado dessa negligência dos líderes, diz o Senhor: "... as Minhas ovelhas andam espalhadas por toda andam espalhadas por toda a Terra, sem haver quem as procure" Verso 6.

Em vista desta situação calamitosa, Deus promete Ele mesmo assumir a função de pastor das ovelhas, Ele mesmo vai congregá-las das terras onde estavam espalhadas, no dia da nuvem e da escuridão, que era o dia do exílio. Como Bom Pastor, Ele vai buscar a perdida, tornar a trazer a desgarrada, ligar a quebrada e fortalecer a enferma. É quase certo que Jesus tinha em mente este capítulo de Ezequiel quando Ele Se apresenta como o Bom Pastor, na parábola de João capítulo 10.

Ezequiel capítulo 34 contém, de fato, uma profecia messiânica no verso 23: "Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o Meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor."

Deus o Pai delega ao Filho a responsabilidade de apascentar Suas ovelhas. A obra deletéria dos maus pastores será reparada por Jesus, o Bom Pastor.

A última palavra do profeta Ezequiel não é, como já dissemos, uma palavra de destruição, mas uma palavra de restauração. No momento mesmo que os exilados lamentavam: "Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados" (Ez 37:11), Deus ia dar ao profeta uma visão maravilhosa da ressurreição nacional.

Esta visão encontramos em Ezequiel 37. O profeta foi levado pelo Espírito a um vale cheio de ossos – ossos esses que representavam a nação morta literalmente. O profeta recebe então ordem de profetizar a estes ossos.

Leio nos verso 7 e 8 estas palavras impressionantes: "Então, profetizei segundo me fora ordenado; enquanto eu profetizei, houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles; mas não havia neles o espírito."

O profeta recebe então a ordem de profetizar a esses corpos perfeitos mas inanimados. Ele ia convidar o espírito que entrasse naqueles corpos e lhes comunicasse vida.

Verso 9: "Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam."
10Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso.

Não se trata aqui da visão da ressurreição final dos mortos, mas uma visão da ressurreição nacional, que muitos criam ser impossível. Para Deus nada é impossível. Se preciso fosse, Deus abriria as sepulturas e faria sair delas o Seu povo. A nação fora destruída mas Deus promete restaurar. Os que creram na palavra profética não só testemunharam esta restauração, mas puderam com ela colaborar.

Quando, porém, Deus restaura, Ele o faz sempre numa escala mais gloriosa. É o que diz em:
Ez 36:35: "Esta terra desolada ficou como o Jardim do Éden."

Um israelita não podia imaginar nada mais resplendente que o Jardim do Éden. Era como que um novo Céu e uma Nova Terra, no dizer do profeta Isaías. Uma terra restaurada requeria, porém, um povo renovado pelo Espírito de Deus interiormente e exteriormente, de modo que Deus pudesse dizer: "Vós sereis o Meu povo, e Eu serei o vosso Deus." Ezeq. 36, verso 28.

A restauração nacional era inconcebível sem um novo templo. Pois bem, a visão final de Ezequiel focaliza-se num novo templo, onde Deus pudesse habitar no meio do Seu povo; e esta visão compreende os capítulos 40 a 48. O mais extraordinário desse templo é que da sua entrada manava um rio de bênçãos, um rio que se tornaria um símbolo do rio da água da vida, do qual fala o Apocalipse capítulo 22.

No capítulo 47 onde está esta visão do rio que manava da entrada do templo, nós lemos:
Ez 47:9 (ú.p.): "... tudo viverá por onde quer que passe este rio."

Que bela visão! Onde antes reinava a desolação, devia agora imperar a vida. O próprio Mar Morto que é o tipo da desolação causada pelo pecado neste mundo, o próprio Mar Morto se tornaria de novo cheio de vida. O inimigo introduziu a morte neste mundo; Deus quer reintroduzir a vida. "Eu vim para que tenham vida", disse Jesus, "e a tenham em abundância" (Jo 10:10). Naquele templo manava um rio de águas vivas, águas purificadoras, águas que santificavam e vivificavam.

Desta vida mais abundante, da qual Jesus falou, Ezequiel nos deixou um vislumbre.

Que este vislumbre ilumine nossa vida presente e eterna. Amém.

DR. SIEGFRIED SCHWANTES

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