Salmo 23 - O Senhor é meu Pastor, nada me faltará...

1. Uma fórmula para o pensamento. Um pastor recebeu a visita de um homem que admira muitíssimo. Ele começara a trabalhar em uma certa empresa, muitos anos atrás, exercendo uma função inferior, mas com muita vontade de vencer. Ele era dotado de muitas habilidades, e de uma grande energia, e fez bom uso disso. Hoje, esse homem é o presidente da companhia, e possui tudo que tal cargo representa. Entretanto, durante a caminhada que o levaria a esta posição, ele não obteve a felicidade pessoal. Tornou-se nervoso, tenso, preocupado, doentio. Um de seus médicos sugeriu-lhe que procurasse um pastor. O pastor e ele conversaram sobre os remédios que lhe haviam sido receitados e que ele tomara. Depois, o pastor pegou uma folha de papel e lhe deu a sua receita: ler o Salmo 23, cinco vezes por dia, durante uma semana. Disse que o tomasse exatamente como ele indicara. Primeiro, deveria lê-lo logo que acordasse de manhã, atentamente, meditando bem nas palavras, e em espírito de oração. Depois, ele

O homem que está morto, mas continua vivo

(Exposição de Rom. 6)

O apóstolo Paulo concluiu Rom. 5, em um grande e maravilhoso clímax. Ele terminou praticamente o assunto da Justificação pela Fé. Ele poderia ter colocado um ponto final, porque este foi o grande capítulo climático, onde ele encerrava o assunto.


Mas Paulo é um verdadeiro pastor. E ele não está muito interessado em literatura. Ele é muito mais um pastor do que um literata. Portanto, ele está agora interessado em responder a duas objeções que se levantam nesse mesmo texto. Ele não nos deixa aqui porque podem surgir algumas objeções, após à sua exclamação climática. E as objeções são estas que passaremos a estudar.

No capítulo 6:1 agora ele faz uma pergunta: "Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?" Esta era a objeção dos seus opositores que ridicularizavam a doutrina da Justificação ensinada por Paulo. Eles realmente estavam insinuando que Paulo pregava a livre graça de Deus estimulando ao pecado. Observe a sutileza da objeção. Eles diziam: "Vamos viver no pecado para que a graça possa vir mais abundante!"

Donde é que se originou esta objeção? Justamente do grande clímax, de Rom. 5:20: "Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado superabundou a graça." Há aqui uma objeção sobre a lei que ele vai tratar no capítulo 7, e há uma objeção sobre a graça que ele tratará agora no capítulo 6.

Os judeus oponentes diziam: "Muito bem, Paulo, a graça é tão maravilhosa assim que quando nós pecamos, por mais enorme que seja a nossa culpa e o nosso pecado, a graça é ainda maior. De modo que nós devemos pecar, continuar no pecado, e permanecer no pecado, e pecar mais e mais para que a graça seja mais abundante. Se a graça de Deus se mostra abundante para com o pecador, vamos ser mais pecadores ainda para que Sua graça seja superabundante."

Paulo responde de uma maneira enfática: Verso 2: "De modo nenhum!" – tal não aconteça! Isto é um sofisma ardilosamente composto! "Como viveremos no pecado, nós os que para ele morremos?" Isso é impossível, vocês estão completamente errados, vocês estão torcendo tudo. Como é possível ainda viver no pecado nós que para o pecado morremos? Vocês estão ensinando exatamente o oposto daquilo que era o propósito da graça de Deus: a graça veio não para que continuássemos no pecado, mas para que nós fôssemos salvos, completamente libertos do pecado. Portanto, isso é impossível! É muito estranho vocês imaginarem uma coisa semelhante – viver no pecado – uma vez que nós já morremos para ele. Isto é uma calúnia contra a doutrina da graça!

Aqui temos a sua proposição: "É impossível vivermos no pecado, porque nós já morremos para ele!" Ou seja: O cristão é um homem que morreu, mas está vivo. E então ele passa agora a apresentar as provas. Mas antes de apresentá-las, eu devo saber o que é que ele está querendo provar.

I – MORRER PARA O PECADO

O que significa isso? Consideremos alguns pontos negativos do que isso não significa.

1) Morrer para o pecado não significa aqui renunciar ao pecado. É verdade que nós temos que renunciar ao pecado, abandonar o pecado. Quando nós cremos em Jesus como Salvador nós renunciamos, deixamos, abandonamos o pecado. Mas isso não é o que o apóstolo Paulo está dizendo aqui.

2) Em 2º lugar: Isso não é um processo. Alguns dizem que isso significa que nós precisamos morrer dia a dia para o pecado num processo de santificação diária. Mas morrer para o pecado nesse texto não é um processo. Naturalmente, é verdade que a santificação é diária. Mas ele não está falando sobre a Santificação aqui. Ele ainda fala de Justificação.

3) Em 3º lugar: Isso não significa perfeição. Alguns ensinaram que Paulo está falando aqui da "carne santa", o estágio de santificação em que o crente é completamente santificado; ele não tem mais pecado. É o estágio em que o cristão é completamente santo, perfeito, sem pecado, morto para o pecado. Isso aqui não é o que está sendo dito, e não é uma realidade dos cristãos.

4) Morrer para o pecado também não é algum sentimento. Você sente que já morreu para o pecado? Não, você não sente que morreu para o pecado. Nós ainda temos as tendências para o mal; nós ainda temos as propensões para o pecado. Portanto, ele não está falando de sentimento.

5) Morrer para o pecado não está no presente mas é algo que se realizou no tempo passado, como indica o aoristo do original grego. Aoristo no grego é um tempo verbal, em que aquilo que aconteceu no passado está terminado e não se repete a segunda vez. Isso, portanto, não é um processo, isso já ocorreu uma vez por todas, já se consumou.

Mas o que significa então "morrer para o pecado"? Morrer para o pecado significa morrer para o reino do pecado. Vamos provar isso pelo contexto imediato. Paulo acabava de escrever em Rom. 5:21 que o pecado "reinou pela morte." Aqui está o reino do pecado. O pecado tem um reino. Todos os que estão unidos a Adão pelo antigo nascimento, vivem no reino do pecado. Aqueles que estão unidos a Jesus Cristo pelo novo nascimento não pertencem mais ao reino do pecado; eles já morreram para o pecado e não fazem mais parte do seu reino.

Nós estávamos no reino do pecado e da morte; então, nós cremos em Jesus Cristo e fomos transportados para o Seu reino de justiça. Portanto, agora nós morremos para o pecado, fomos mortos para o seu reino. Nós não somos mais pertencentes ao pecado, porque não estamos mais no grande domínio do reino do pecado.

Mas alguém poderia dizer: "– Pregador, eu ainda estou neste mundo de pecado, o pecado reina em toda a parte, e eu sinto que no meu próprio corpo o pecado está dentro e reina. Como é que eu posso dizer que estou morto para o pecado e o seu reino, como posso dizer que já fui transportado para um reino de luz e de justiça e de verdade, se eu ainda estou neste mundo cheio de pecado e trevas? Como posso dizer isso?".

Você deve considerar agora o aspecto judicial. Rom. 5:1-11 apresenta o aspecto experimental. E então do verso 12 (5:12-6:11) ele apresenta o aspecto judicial. O que quer dizer isso? Isso quer dizer uma declaração do Juiz, é uma garantia de Deus. Ele já nos considera dentro do Seu reino espiritual, o reino da graça. Ele já nos considera mortos para o reino do pecado.

Isso não é experimental, não aconteceu ainda o aspecto experimental, nós não somos mortos para o pecado experimentalmente. Na experiência nós ainda não morremos para o pecado, porque nós ainda não somos perfeitos. Se nós fôssemos santos, se nós fôssemos perfeitos, sem nenhum egoísmo, sem nenhum orgulho, então nós poderíamos dizer que estamos mortos experimentalmente para o reino do pecado. Mas a realidade é esta: estamos mortos para o pecado, apenas judicialmente. A morte definitiva para o pecado ocorrerá na Segunda Vinda de Jesus, quando o nosso corpo mortal será revestido de imortalidade.

Mas se morrer para o pecado é morrer para o reino do pecado, também é verdade que vivemos em um novo reino. Paulo havia falado em um reino da graça, em oposição ao reino do pecado (Rm 5:21). Ele disse também que Deus "nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor." (Col. 1:13). E Cristo já dissera: Quem crê em Mim "tem a vida eterna, não entra em condenação, mas passou da morte para a vida." (Jo 5:24). Antes estávamos no reino do pecado e da morte; agora, vivemos no reino da graça de Deus. Paulo portanto disse: É impossível você estar em dois lugares a um só tempo. Não podemos estar no reino de Deus e no reino do pecado ao mesmo tempo. Se nós morremos para o reino do pecado, vivemos no reino da justiça.

Ademais, Paulo apresenta aqui a impossibilidade de viver no pecado: "Como viveremos ainda no pecado?" Paulo entra agora no aspecto experimental, que era a dúvida dos seus oponentes. Se estamos mortos para o reino do pecado, judicialmente, como viveríamos no pecado experimentalmente? É impossível, diz ele. O que significa isso? 1) Isso não significa vida sem pecado, porque o cristão ainda peca. Ele peca ocasionalmente, mas ainda peca. 2) Isso não significa perfeição. O cristão ainda não é perfeito, apenas relativamente.

Viver em pecado é viver segundo os ditames da natureza corrupta, sendo um escravo do pecado. Viver no pecado significa entregar-se ao pecado e inclinar-se a ele. As pessoas que vivem no pecado se deleitam nisso, e fazem do pecado o negócio de sua vida, e todo o curso de sua vida é pecaminoso, poluído pelo pecado. Paulo disse: Como seria possível isso acontecer com pessoas como nós que morremos para o pecado? Isso é impossível.

Paulo quer dizer: Como nós viveremos na prática habitual, continuada do pecado? Como nós ainda habitaremos com o pecado, como nós permaneceremos no pecado? O pecado antes do batismo era praticado habitualmente; agora, o cristão se livrou do pecado habitual, porque ele está morto para o reino do pecado.

Mas quais são as provas de que você está morto para o pecado? Rom. 6:3 e 4: "Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na Sua morte? Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida."

Onde estão as provas de que nós estamos mortos para o pecado? No batismo. O batismo fundamenta essas provas. Uma pessoa que foi morta e depois sepultada, está provado que realmente morreu. Mas se ela foi morta, sepultada e depois de sepultada foi ressuscitada, ainda se prova, pela 3ª evidência, que realmente ela está morta, completamente morta, morreu de fato.

O que aconteceu no batismo? Qual a nossa nova relação com Cristo? Rom. 6:5: "Se fomos unidos com Ele na semelhança da Sua morte, certamente o seremos também na semelhança da Sua ressurreição." Observem esta expressão, que amplia o significado do batismo. O que aconteceu no batismo? Nós fomos unidos com Ele, na morte e na ressurreição. Então, Paulo está agora enfatizando a nossa união com Jesus Cristo na Sua morte. Se Ele morreu, então nós que estávamos unidos a Ele, morremos também.
II – O VELHO HOMEM

Mas qual é a base de nossa certeza? O que é que nós sabemos? Rom. 6:6: "Sabendo isto: que foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos". Há neste versículo 6 uma tremenda controvérsia entre os teólogos.

O que significa o velho homem?
1) "Velho homem" – dizem alguns –"significa a natureza pecaminosa". “Nós temos uma natureza pecaminosa, temos tendências para o pecado e isso significa o nosso velho homem, e quando nós fomos batizados, deixamos lá a natureza pecaminosa." Mas o grande problema é que a nossa natureza pecaminosa não foi crucificada! Nós ainda temos propensões e fortes tendências para o pecado.

2) Outros dizem: "Isso significa o eu não regenerado." Mas o "antigo eu", também não foi morto e crucificado! Pelo contrário, o nosso eu é forte, e muitas vezes quer sobressair; de fato, ele não foi crucificado! De acordo com o aoristo, o tempo verbal grego, o "velho homem", foi crucificado definitivamente.

3) Outros afirmam que o velho homem significa a nossa velha vida de pecado. Mas Paulo não está falando experimentalmente, ele não está descrevendo a nossa experiência passada. Ele está falando em termos judiciais.

O que significa, então? Como podemos saber isso? Quem é o melhor intérprete do apóstolo Paulo? É ele mesmo, e aqui ele está usando um paulinismo, uma expressão exclusivamente usada por ele. Nós temos que recorrer ao contexto, como de costume. O que é que diz o contexto? O capítulo 6 está enraizado no capítulo 5. O capítulo 5 fala de dois homens que são comparados: o Velho Homem e o Novo Homem. Quem é o Velho Homem do capitulo anterior? (5:12,14)? Adão. Adão é o Velho Homem. Adão em nós é o "nosso velho homem". Todos trazemos Adão em nós. E Quem é o Novo Homem? Cristo, que também é citado no capítulo 5 (v. 15).

Mas quando Cristo morreu na Cruz do Calvário, Adão foi crucificado judicialmente, o Velho Homem, Adão em nós morreu. Não temos, portanto, mais aquela antiga ligação com ele. Quando Adão em nós morreu, fomos desligados, cortados, separados, desunidos de Adão. Mas qual é o grande contraste apresentado no verso 5? Estamos unidos a Jesus, o Novo Homem. Portanto, o verso 5 diz: Nós fomos unidos a Jesus Cristo. E o verso 6 diz: Nós fomos separados de Adão, o nosso Velho Homem .
III - O CORPO DO PECADO

O que isso significa?
1) Alguns dizem que isso significa a nossa natureza pecaminosa. Alguns dizem, aliás, que o "velho homem" é a mesma coisa que o "corpo do pecado", e, se o velho homem, segundo eles, significa a natureza pecaminosa, então as duas expressões (velho homem e corpo do pecado) significam o mesmo; então o corpo do pecado também seria a natureza pecaminosa.

Entretanto, o "corpo do pecado" não pode ser a natureza pecaminosa porque ela não foi destruída. Você sente que a sua natureza pecaminosa foi destruída? Você sente que tem "carne santa"? Não, isso não faz parte de nossa experiência cristã.

O apóstolo Paulo não está falando de santificação, ele está falando de justificação. Isso é diferente. Justificação é um ato judicial; santificação é um ato experimental, é algo que se experimenta na vida, na experiência diária. E na experiência diária nós sabemos que a natureza pecaminosa não foi destruída.

2) Não seria este corpo do pecado nosso corpo físico? Não pode ser também. Por quê? Primeiro: O corpo físico jamais foi destruído. Esta é a conclusão mais evidente que temos. Segundo: O corpo físico de si mesmo é moralmente neutro. Quer dizer, não há literalmente um "corpo do pecado", um corpo que seja pecaminoso em si mesmo. O que existe de pecaminoso é uma tendência para o mal. A tendência é pecaminosa, mas o corpo em si não é pecaminoso. O nosso corpo não pode ser chamado "corpo do pecado" porque o corpo é moralmente neutro. O pecado se instala quando há consciência, e então a consciência consente com o pecado, e há um processo em que toda a personalidade aceita o pecado; mas o corpo em si é neutro moralmente.

Em 3º lugar eu diria que o "corpo do pecado" não pode ser o corpo físico, porque o “corpo do pecado” não é “nosso”. Enquanto se diz que o velho homem é nosso, não se diz que o "corpo do pecado" seja nosso. O corpo do pecado pertence a outro.

Portanto, a pergunta seguinte é esta: a quem pertence o corpo do pecado e o que significa isso? Em Rom. 12:5, nós temos a chave para entender esta passagem. Aqui temos a palavra "corpo" usada figurativamente. "... assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo, e membros uns dos outros."

O que ele está dizendo é que os crentes são um só Corpo em Cristo; os descrentes - note a analogia - os descrentes são um só Corpo em Adão. O corpo místico de Cristo é este formado pelos cristãos. Quer dizer, todos os cristãos, membros uns dos outros, formam o Corpo de Cristo. No entanto, como os membros da nova Humanidade em Cristo são um Corpo, assim também todos os membros da velha Humanidade em Adão são o seu Corpo, o corpo místico de Adão, ou seja, o "corpo do pecado", ou "corpo da carne" (Col. 2:11) contrastado com o Corpo do Espírito (1Cor. 12:13), que é também o Corpo de Cristo.

Então, nós temos um corpo de justiça, que é o corpo de cristãos; e temos, em contraste, um corpo de injustiça ou o corpo do pecado, que é toda a humanidade em Adão, ou todos os pecadores em Adão. Se há um corpo místico de Cristo, formado pelos cristãos, há um corpo místico de Adão, formado pelos ímpios. Portanto, este é o entendimento: o corpo do pecado é o corpo místico de Adão, e consiste na velha Humanidade.

Agora nós podemos entender um pouco mais deste verso (Rom. 6:6). O "nosso velho homem" é Adão em nós; o "corpo do pecado" somos nós em Adão. O verso 5 nos fala de nossa união com Jesus Cristo, nós fomos "plantados nEle", como diz outra versão, "enxertados" em Cristo. É como a videira e os ramos: Cristo em nós e nós em Cristo. A recíproca também é verdadeira: antes do batismo, a realidade era: Adão em nós e nós em Adão.

Enquanto o verso 5 nos fala de nossa união com Cristo, o verso 6 nos fala de nossa desunião, de nosso desligamento de Adão. Ou seja, crucificando Adão em nós, destrói-se o Corpo místico de Adão, o "corpo do pecado". De modo que temos aí um completo desligamento. Fomos desligados de nossa união de Adão para que pudéssemos nos unir ao 2º Adão, Cristo.

Se nós podemos destruir a parte, nós podemos destruir o todo. Crucificando-se Adão em nós, a parte – (o nosso velho homem) – destrói-se automaticamente o corpo do pecado (de Adão), que é o todo, a velha Humanidade. O corpo do pecado, o corpo místico de Adão, todos os que formam o corpo de Adão, isso foi destruído através da cruz do Calvário. Isso significa uma destruição por crucifixão.

Qual o objetivo de tudo isso? Na cruz do Calvário o "velho homem", Adão em nós foi crucificado, a fim de que o "corpo do pecado", o corpo místico de Adão fosse destruído, para que nós não mais fôssemos "escravos do pecado". (Rom. 6:6, úp). O original grego diz: "e não mais sejamos escravos do pecado." Isso é judicial, isso ainda é por decreto de Deus. Não é experimental. A experiência vem depois.

O que Paulo diz aqui é que isso não é uma admoestação; isso é algo que aconteceu por uma declaração de Deus. Através desta obra de desligar-se de Adão, completo desligamento de Adão e completa união em Cristo, nós estamos agora livres, libertos do pecado. Isso é Justificação pela fé.

Mas qual é a prova de que estamos justificados? V. 7: "porquanto quem morreu está justificado do pecado." Observe que até aqui Paulo provou que você está morto para o pecado, completamente morto para o reino do pecado. E quem morreu está justificado. Paulo não está falando de Santificação, ele fala de Justificação. Quem morreu está justificado. Se nós já morremos para o pecado, para o reino do pecado, então nós já estamos livres, estamos justificados.

IV – APLICAÇÃO PRÁTICA

E então, Paulo faz um apelo, no: V. 11: "Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus". Considere este fato judicial como uma verdade bendita, que é a própria base da vida espiritual. Nós já morremos com Cristo para o pecado. Isso é certo, isso é seguro. Nós fomos batizados e lá nós significamos a nossa completa união com Cristo. Portanto, agora, estamos vivos em Cristo, ressuscitamos com Ele.

Se você está realmente morto, considere-se assim mesmo. O cristão deve se considerar não "como se fosse", mas como realmente ele é: morto para o pecado. Norman Vincent Peale que escreveu sobre o pensamento positivo, nos seus livros, ele sugere o seguinte: "Considere-se 'como se' você fosse bom: mantenha no seu pensamento que você é bom, 'como se' você fosse bom."

Não é isso o que o apóstolo Paulo está dizendo aqui. Por isso, há tanto conflito em certas pessoas que lêem esses livros, porque eles sabem que não são bons; e eles estão experimentando viver como se fossem; porém, eles dizem: "Mas, eu não sou!" Portanto, há um conflito estabelecido.

Mas o que Paulo diz é uma certeza. Ele diz: "–Vós estais mortos para o pecado, isso é uma realidade judicialmente; portanto, vocês devem considerar isso não como uma possibilidade, mas como uma realidade, como um fato, como algo concreto. Vocês estão realmente mortos para o pecado."

Portanto, qual é a próxima aplicação experimental? V. 12: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal." Se antes vimos um apelo mental, agora, vemos a prática em nosso corpo. Notemos que até o verso 11, tudo o que foi escrito é judicial. Mas os versos 12 e 13 tem uma aplicação prática, porque a aplicação experimental sempre está baseada no ensino da doutrina judicial. Por isso, é importante você entender o aspecto judicial, porque você viverá em consonância com aquilo que você entendeu do aspecto judicial. Se você não entende a doutrina, você não tem como praticá-la.

Por isso que há tanto conflito na igreja, há tantos problemas e há tantas pessoas dizendo: "Ah, eu ainda não crucifiquei o meu velho homem!" Mas a Bíblia diz que ele já foi crucificado; entretanto, essas pessoas estão tentando fazer algo que Cristo já fez na Cruz do Calvário. E então elas entram num conflito, e realmente não sabem como resolver os problemas íntimos de sua alma. Mas no momento em que você entender o seu novo "status" judicialmente, você terá mais poder em sua vida cristã. O cristão é um homem que é morto para o pecado, mas é vivo para Deus. O cristão é um morto-vivo; o ímpio é um vivo-morto. O ímpio é um vivo que está morto; o cristão é um morto que está vivo.

Mas como pode Paulo apelar para que não reine o pecado em nosso corpo mortal, se ele até aqui afirmou que nós estamos mortos para o reino do pecado? Como poderia reinar o pecado, se nós já fomos mortos para o reino do pecado? O que é que significa isso? Paulo está dizendo: Seja na prática aquilo que você já é na doutrina; viva experimentalmente aquilo que você é judicialmente. A minha pergunta é esta: Se nós fomos libertos judicialmente, como deveremos viver experimentalmente? Se Deus já declarou que nós estamos mortos para o pecado, então como é que nós vamos viver esse fato na experiência?

Paulo nesse ponto introduz o grande tema da Santificação. Ele faz uma aplicação daquilo que ele estava dizendo até agora, tornando o assunto experimental. Naturalmente, ele faz um apelo dramático, um apelo veemente: Como poderemos viver no pecado (experimentalmente), se nós já fomos declarados mortos para o pecado (legalmente)?

Aqui está um apelo do apóstolo Paulo em torno disso. O que ocorre em nossa vida quando nós descobrimos que estamos livres? O que ocorre naturalmente, na vida de uma pessoa quando ela foi justificada? Como é que uma pessoa justificada vai viver? Uma pessoa justificada vai viver em santificação. O que é que acontece quando uma pessoa justificada entende, compreende que ela está livre do pecado? É natural que ela agora viva como ela realmente é.

O que o apóstolo Paulo está dizendo, portanto, é o seguinte: Viva experimentalmente aquilo que você é judicialmente. Assim como o Juiz de toda a Terra decretou que você é: viva exatamente assim. Embora judicialmente nós estejamos mortos para o pecado, nosso corpo ainda tem paixões. E aqui está, portanto, introduzido pela 1ª vez o fato de que nós temos a natureza pecaminosa. Então, legalmente nós estamos livres; mas, como estamos experimentalmente?

Legalmente, toda a humanidade está livre. A 13 de maio de 1888 foi declarada a Abolição da Escravatura no Brasil. Foi através da Lei Áurea, que a liberdade total finalmente foi alcançada pelos escravos em nosso país. Esta lei, assinada pela Princesa Isabel, abolia de vez a escravidão no Brasil. Todos estavam livres, mas nem todos se apropriaram desse benefício judicial. Pela cruz do Calvário, todos os pecadores estão livres, judicialmente. Pela cruz do Calvário, todos os homens deste mundo estão livres. Foi declarada a sua libertação judicial.

Mas como será experimentalmente? Experimentalmente, depende de nossa aceitação do que foi decidido por Deus em Seu decreto judicial. Então, o que devemos fazer para obter o benefício? Disse o apóstolo Paulo: "Oferecei-vos a Deus" (v. 13). Este é o segredo da santificação. Os vossos membros que antes vocês ofereciam para as práticas pecaminosas, ofereçam agora para Deus para serem instrumentos de justiça e não instrumentos de iniqüidade. Portanto, devemos nos oferecer a Deus: os membros do nosso corpo, a mente, as faculdades físicas, mentais e espirituais devemos nós entregar a Deus.

A Sra. White no livro Caminho a Cristo, à página 70, disse: "Consagre-se a Deus pela manhã." – oferecei-vos a Deus. "Faça disso sua primeira atividade. E ore: 'Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo, e permite que toda a minha obra se faça em Ti.' "

Sua oração de consagração deve ser diária: "Ó Deus, toma os meus recursos, toma os meus membros. Faze de mim um instrumento de amor!" Já dizia S. Francisco de Assis: "Faze de mim um instrumento da Tua paz; onde haja ódio que eu ponha ali o amor; onde haja tristeza, que eu seja um instrumento da Tua alegria."

"Cada dia oferecei-vos a Deus". Disse E.G.White: "Esta é uma questão diária. Cada manhã consagre-se a Deus para esse dia. Peça-Lhe que examine todos os seus planos, para que eles sejam levados avante ou não, conforme a indicação da Sua providência. Assim, dia a dia poderá entregar nas mãos de Deus a sua vida, e ela se tornará cada vez mais semelhante ao modelo de Jesus."

Quando você entrega a sua vontade, quando você entrega os seus pensamentos, as suas afeições, as suas emoções, os seus sentimentos para Deus, os seus pensamentos levando-os em obediência a Jesus Cristo, quando você faz isso, quando você se oferece para Deus, então acontece uma transformação na sua experiência e na sua vida cristã. E então aquilo que é judicial se tornará experimental. E aquela vida maravilhosa de pessoas mortas para o pecado e vivas para Deus será uma realidade na sua experiência diária.

No v.19, Paulo completa: "Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza, e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação." O que é natural depois da justificação? O que é natural quando nós somos perdoados? É a santificação. Quando nós somos libertos do pecado é evidente, é natural vivermos como pessoas livres. De fato, o resultado da justificação é "a santificação, e por fim, a vida eterna" (6:22).

Certa vez um jovem inglês estava passeando pelo mercado de escravos no Cairo, do Egito. Então viu um moço que estava sendo vendido, em leilão. Viu que era um jovem inteligente, com uma boa aparência, e músculos fortes. E ele gostou daquele jovem, se apegou ao moço. E então fez um lance, outro lance, e fez o maior lance a fim de poder comprá-lo, e gastou com isso todas as economias da sua vida.

Então quando o escravo olhou para seu novo dono, o desprezou e disse: "Ele vem de uma terra de liberdade, mas aqui ele quer ganhar dinheiro. A primeira oportunidade que eu tiver, eu vou lhe encravar um punhal nas suas costas." Então o novo dono o chamou fora da vista da multidão, e disse: "Moço, eu me compadeci de você. Agora você é livre. Eu comprei a sua liberdade, e agora você é livre. Pode ir. Você pode ir aonde quiser. Você está livre. Você é tão livre quanto eu."

O jovem ficou surpreso e admirado. O jovem, antes escravo, não podia compreender aquilo, não podia imaginar aquilo, e quando compreendeu que ele havia julgado mal o seu senhor, havia julgado mal aquele que comprara a sua liberdade, ele disse: "Meu senhor, eu agora desejo viver e servi-lo para sempre."

Quando nós descobrimos que somos livres do pecado, que Jesus Cristo pagou um preço tão alto para comprar a nossa libertação, quando nós entendemos pelo menos um pouco do que significa aquele sangue derramado para me libertar, então, quando nós compreendemos isso, nos oferecemos a Deus e nos entregamos, dizendo: "– Senhor, faze de mim um instrumento da Tua justiça. Senhor, eu quero me consagrar inteiramente a Deus."


PR. ROBERTO BIAGINI
Teólogo, Mestre em Teologia. Realizou vários cursos de Extensão Teológica da Andrews University e do Centro de Educação Contínua da DSA. Trabalhou como distrital de várias igrejas do centro, norte e sul do país. É casado com a Profª. Silvane Luckow Biagini, e tem dois filhos, Ângela e Roberto.

Comentários