Salmo 23 - O Senhor é meu Pastor, nada me faltará...

1. Uma fórmula para o pensamento. Um pastor recebeu a visita de um homem que admira muitíssimo. Ele começara a trabalhar em uma certa empresa, muitos anos atrás, exercendo uma função inferior, mas com muita vontade de vencer. Ele era dotado de muitas habilidades, e de uma grande energia, e fez bom uso disso. Hoje, esse homem é o presidente da companhia, e possui tudo que tal cargo representa. Entretanto, durante a caminhada que o levaria a esta posição, ele não obteve a felicidade pessoal. Tornou-se nervoso, tenso, preocupado, doentio. Um de seus médicos sugeriu-lhe que procurasse um pastor. O pastor e ele conversaram sobre os remédios que lhe haviam sido receitados e que ele tomara. Depois, o pastor pegou uma folha de papel e lhe deu a sua receita: ler o Salmo 23, cinco vezes por dia, durante uma semana. Disse que o tomasse exatamente como ele indicara. Primeiro, deveria lê-lo logo que acordasse de manhã, atentamente, meditando bem nas palavras, e em espírito de oração. Depois, ele

O homem que é humilde, mas que se gloria

O título deste estudo parece, como os outros assuntos, uma contradição. Cada um destes assuntos tem um paradoxo, uma aparente contradição. São os grandes contrastes do livro de Romanos.

Como é que este homem pode ser humilde e se gloria a um só tempo? Naturalmente, nós esperamos que o homem que é humilde não se glorie. Já dissemos no capítulo 4 que o cristão é aquele que não está mais se gloriando, se jactando; e isso o apóstolo deixa claro em muitos lugares. Mas nós vamos encontrar a base para esta realidade em Romanos 5.

Vamos ler os primeiros versos de Rom. 5:1, 2: "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus".

Até o capítulo 4 nós estudamos o aspecto judicial da salvação. Agora no cap. 5 (1-11) estudaremos o seu aspecto experimental. E a sua tese, a sua proposição é a seguinte: "A salvação é tão certa que até podemos nos gloriar!"

Paulo está apresentando o grande tema da Segurança da Salvação. Onde está esta segurança? Ele disse que estamos firmes na graça de Deus. Ele já havia antecipado isto em 4:16, que onde lemos que se é pela graça que nos vem a justiça de Deus, então isto é firme, seguro, certo, infalível. A nossa salvação é uma certeza porque está baseada na graça de Deus na qual estamos firmes e seguros.

Mas como podemos provar isto? Paulo prova isto pela experiência do homem justificado. Ele agora apresenta a resposta à seguinte pergunta: Quais os resultados da justificação? E através dos resultados da justificação, ele prova a certeza da salvação. Por que é que o cristão pode ter certeza de salvação? E quais são esses resultados através dos quais ele tem segurança de salvação?

1) O cristão tem certeza de salvação porque ele tem paz com Deus.

Uma famosa artista do cinema norte-americano disse o seguinte: "Tenho dinheiro, tenho beleza, atração, gozo de imensa popularidade. Eu deveria ser a mulher mais feliz do mundo, mas sou miserável e infeliz porque não tenho paz." Com efeito, os ímpios não têm paz, e porque não têm paz, não têm certeza de salvação.

O apóstolo Paulo disse que nós "temos" paz. A tradução correta é que "temos paz", não que "tenhamos paz"! Aqui nós temos uma certeza, não temos uma admoestação. A paz que temos é uma certeza, uma segurança. Ele está querendo dizer que nós temos a paz, como um resultado da justificação, com absoluta segurança.

Que tipo de paz? Paz com Deus. A expressão paz com Deus é diferente de paz de Deus. Paz de Deus significa aquela paz interior como harmonia dos sentimentos que nós recebemos dEle, e podemos ter harmonia da mente, harmonia dos sentimentos – nós temos esta paz, esta tranqüilidade interior. Mas isso não é o que está sendo prometido como resultado imediato da justificação. Ele está falando de "paz com Deus".

Paz com Deus significa relacionamento acertado com Deus. Significa que se antes éramos inimigos de Deus, agora estamos reconciliados com Ele. Isso significa que mesmo que uma pessoa não sinta a paz, ela pode estar em paz com Deus. Esta é uma paz judicial, é uma reconciliação com Deus judicialmente de tal modo que ele agora como resultado desta paz com Deus judicialmente, ele terá uma paz de Deus experimentalmente. O ímpio tem falta de "paz de Deus" porque não tem "paz com Deus".

2) O cristão tem certeza de salvação porque ele tem acesso à graça.

V. 2: Temos "acesso pela fé a esta graça".Você já ouviu falar em graça onipotente? Aqui está a segurança da salvação – exatamente porque é pela graça. Porque se a salvação fosse baseada em nossas obras, nos nossos sentimentos, nas nossas possibilidades, nos nossos méritos, aí é que nós já sabemos por experiência quão insegura seria esta salvação.

Portanto, a tentativa dos pagãos de se salvar através das suas próprias obras, e a tentativa dos judeus de procurar construir uma justiça diante de Deus é uma tentativa de insegurança.

A graça de Deus, a onipotente graça de Deus! – Nós temos acesso a esta graça. Esta palavra acesso significa que nós fomos introduzidos na presença de Deus, nós fomos introduzidos na graça, e a graça foi introduzida em nós. Isso é certo, isso é seguro – tão certo quanto é certa a onipotente graça de Deus. E Paulo acrescenta: "na qual (graça) estamos firmes". "Nós estamos firmes nesta graça". Isso indica que o propósito dele é apresentar a segurança da salvação.

Lutero ansiava ter certeza de salvação. Mas vivia amedrontado, afligido, tiranizado por suas próprias culpas. Ele foi criado no ambiente católico romano, seus pais eram muito católicos. Ele foi parar num mosteiro, ele era um monge, e ele dedicou a sua vida inteira para buscar paz e segurança, e certeza de salvação.

Mas uma das primeiras coisas erradas que lhe ensinaram foi a seguinte: Nós não podemos ter segurança da salvação nesta vida. Você tem de confiar na Igreja, você tem de fazer muitas penitências, você tem que participar de muitos rituais da Igreja e ainda assim você precisa se cuidar muito porque depois de tudo isso você não terá certeza de salvação. Isto é salvação pelas obras.

Mas quando Lutero permitiu que a luz do Céu brilhasse em seu coração, quando ele compreendeu a doutrina, ele despertou para o fato de que nós podemos ter certeza da salvação nesta vida; e então, como resultado ele ficou cheio de alegria, cheio de júbilo, cheio de regozijo, experimentou uma grande felicidade e se tornou o campeão da Reforma da Justificação pela Fé. Isto é certo, isto é seguro, isto é firme, isto é infalível.

3) O cristão tem certeza de salvação porque ele pode até se gloriar.

O 3º resultado da justificação pela fé mencionado aqui no verso 2 é que agora nós podemos nos gloriar, agora nós estamos nos gloriando. Não é uma admoestação; o texto não diz: "Gloriemo-nos." Não, isso é uma segurança. Ele está dizendo: "Nós nos gloriamos". Isso é tão certo – esta salvação é tão certa, é tão segura – que nós estamos até nos gloriando nesta salvação, nesta justificação, nesta graça, nesta paz, nesta certeza.

O homem que é justificado em primeiro lugar é humilde. O texto básico de Paulo é Hab. 2:4, que começa a dizer que o ímpio é orgulhoso, o ímpio não é humilde diante de Deus: "Eis o soberbo", ele não tem relacionamento com Deus, ele não tem paz, ele está inseguro; no entanto, diz o texto: "o justo viverá pela fé".

Em outras palavras, aquele que é orgulhoso nunca será justificado; aquele que é humilde, este sim, será justificado. Porque o orgulhoso não reconhece as suas debilidades, os seus pecados. E a pessoa que é justificada pela fé, ela está dizendo: "– Senhor, a minha culpa; Senhor, o meu pecado; Senhor, perdoa-me." Ele se humilha até o pó.

Como disse a Sra. White: "Justificação pela fé é a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele, por si mesmo, não pode fazer." (Testemunhos para Ministros, p. 456). O cristão, portanto, é humilde. O 1º característico do cristão é a humildade, porque ele se achega a Deus, reconhecido das suas faltas e pecados.

A primeira coisa que Jesus Cristo disse em seu famoso sermão do monte foi: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mat. 5:3). Estava lançada a base da justificação pela fé, a humildade. De fato, até Elifaz reconhece: "Deus salvará o humilde" (Jó 22:29). Mas os orgulhosos jamais serão salvos; antes, eles terão que se humilhar diante de Deus.

No entanto, diz Paulo, este homem que é humilde, está se gloriando. Ele pode se gloriar. Isso significa que ele está se regozijando, ele está exultando, ele está transbordando de júbilo. Ele tem tanta certeza que ele pode até se gloriar e exultar.

Em que é que o cristão se gloria?

I – O CRISTÃO SE GLORIA NA ESPERANÇA DA GLÓRIA

V. 2: "E nos gloriamos na esperança da glória de Deus". O que significa a glória de Deus? No Antigo Testamento, o shekinah era a visível manifestação da glória de Deus, no lugar santíssimo do santuário. É o fulgor, o brilho, o resplendor, a majestade de Deus. O cristão espera ver a Deus. Disse Cristo: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mat. 5:8). E poderíamos parafrasear: "Bem-aventurados os justificados, porque eles verão a Deus".

Certa vez um incrédulo perguntou a um jovem cristão: "– Jovem, você acredita em Deus?" Ele disse: "Eu acredito, sim." "Então me mostre o seu Deus." Daí, o jovem disse: "– Muito bem, vem aqui comigo." E era o momento em que o sol estava no seu mais fulgurante brilho, ao meio-dia. O jovem disse para aquele ateu: "Olhe para o sol com os seus olhos fixos." Ele disse: "Eu não posso, ele ofusca a minha vista." Então o jovem concluiu: "Você quer que eu lhe mostre o meu Deus, quando você não pode nem contemplar um representante dEle?"

Moisés viu a Deus pelas costas; o Seu rosto jamais foi visto por um mortal. O cristão tem esperança de ver a Deus, ver a glória de Deus. E isso significa que ele mesmo espera ser glorificado, porque somente alguém glorificado poderá contemplar a glória de Deus e viver.

Mas não tropece na palavra "esperança". Não é uma palavra incerta, vacilante. Isso é tão seguro, isso é tão certo que o cristão já está se gloriando nesta esperança sabendo que há de se realizar.

II – O CRISTÃO SE GLORIA NAS SUAS TRIBULAÇÕES

Em que mais o cristão se gloria? V. 3: "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações" Existe alguém mais atribulado do que o cristão? O cristão é atribulado por Satanás e pelos seus anjos; ele é atribulado pelos ímpios lá fora; às vezes ele é atribulado entre os seus familiares.

Por outro lado, ele é atribulado pelas provas, pelas tentações, pelas privações, no mundo e pelas tentações da sua própria natureza. Ele é atribulado muitas vezes até dentro da Igreja. Existe alguém mais atribulado do que o cristão? Não, não existe. No entanto, ele está se gloriando. Ele é muito atribulado, mas está se gloriando até nas tribulações.

O próprio apóstolo Paulo era um exemplo extraordinário deste homem cristão que se gloria nas tribulações. Ele foi perseguido, escorraçado, afligido, naufragado, açoitado por 39 chicotadas, apedrejado quase à morte; no entanto, ele podia dizer: "Eu me glorio... sinto-me transbordante de júbilo em toda a nossa tribulação." (2Cor. 7:4).

Mas como podemos entender que o cristão se regozija na tribulação? Esta salvação é tão certa, é tão segura que nem as tribulações abalam a sua fé e a sua esperança. Não, porque é certa, é segura esta salvação. É tão certa, é tão segura que ele até se gloria nas tribulações que não podem abalar a sua firmeza na graça.

Mas o que é que isso quer dizer? O apóstolo Paulo não diz aqui: Nos gloriamos em meio às tribulações – venha o que houver eu estou alegre. Não diz: Nos gloriamos a despeito, apesar das tribulações – não diz isso. Mas ele diz que o cristão se alegra nas tribulações.

O que significa isso? O cristão não perde os sentimentos de simpatia. Quando ele se converte, ele ainda se entristece – ele sofre quando as tribulações vêm. Ele não gosta de provas, de testes, de dureza na sua vida. Mas por que ele está se gloriando? Observe a palavra seguinte: "sabendo". "...sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança."

A diferença entre o cristão e o ímpio é entre saber e não saber. Porque o cristão é aquele que entende, compreende as coisas, raciocina, faz as coisas pensando no que pratica. Conhece as conseqüências e evita os problemas. Enquanto que os ímpios, não; se eles têm vontade de fazer uma coisa, eles fazem, sem medir os resultados.

Enquanto que o cristão é ponderado, ele está esperando, ele está se cuidando, ele está analisando as situações, ele está consultando a vontade de Deus. A diferença entre o cristão e o não-cristão é a de que o cristão sabe das coisas. Pergunte a um ímpio por que existe o sofrimento e você saberá quem realmente sabe das coisas.

O que é que o cristão sabe? Ele sabe que "a tribulação produz paciência". Certa vez um jovem se dirigiu para o seu pastor, e disse: "– Pastor, eu não tenho paciência, eu não tenho perseverança. Eu gostaria que o senhor me desse um conselho sobre como eu posso vencer a minha natureza de tal modo que eu tenha perseverança, tenha paciência." Então, o pastor disse: "– Vamos orar", e se ajoelharam. E então o pastor começou a orar:

"– Ó Deus, dá a este jovem mais tribulação, dá a este jovem mais tentação, dá mais tribulação a este jovem, dá mais privação e mais provações para este jovem". "– Pastor, pastor, pare, pare de falar, pare de orar. Pastor, não foi isso que eu pedi. Eu pedi mais paciência, mais perseverança." Então o pastor abriu a sua Bíblia, e leu este verso 3: "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz paciência."

É isso que nós sabemos: Quando nós estamos sendo atribulados, nós sabemos que esta tribulação está burilando os defeitos do nosso caráter, está nos dando mais força, mais paciência. Esta é uma grande virtude, mas a paciência é uma palavra ainda negativa. A melhor tradução do original é a palavra "perseverança", que é o aspecto positivo como um resultado das tribulações.

O que mais nós sabemos? V. 4: "sabendo que a perseverança produz experiência". Experiência deveria ser traduzida como uma "prova", uma demonstração, uma evidência. Paulo está dizendo, portanto, que esta tribulação produz perseverança e a perseverança produz mais uma prova, mais uma evidência da salvação. Mais uma prova e mais uma certeza. Perseverança produz evidência; e evidência produz mais esperança ainda.

Paulo começou com esperança: "nos gloriamos na esperança da glória de Deus". E agora no verso 4, ele conduz novamente à esperança, porque ele se gloria nas tribulações, porque esta tribulação conduz a mais esperança.

Mas agora nos versículos seguintes (versos 5-10), o apóstolo abre um parêntesis para explicar o que ele significa com esperança. E neste ponto, ele volta novamente à parte judicial, porque o aspecto experimental da salvação está baseado no aspecto judicial. Então ele começa novamente a dizer por que é que nós podemos ter certeza. (E não é de se admirar, porque no método de Paulo, os parêntesis estão incluídos para um melhor e mais amplo esclarecimento da verdade).

Primeiramente, ele pretende desfazer toda e qualquer insegurança: v. 5: "Ora, a esperança não confunde". Eu havia dito: "Não tropece na palavra esperança!" Agora, ele diz por quê. Por que esta esperança não desaponta? "porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado." Por que é que esta esperança é segura, por que é que ela é certa? "porque o amor de Deus é derramado". Dá a idéia de algo abundante. O amor de Deus é dado abundantemente em nossos corações através do Espírito.

O Espírito Santo, que também nos ama (Rom 15:30), Ele tem esta função de dar-nos esta certeza e esta segurança da salvação e a certeza desta esperança, porque Ele chega aos nossos corações e Ele derrama o amor de Deus sobre nós.

Os ímpios não têm esta certeza. Uma família tinha um filho aviador, que viajava a uma espantosa velocidade em um grandes avião. E então em certo dia aconteceu algum problema no motor do seu avião. E ele lá em cima quando percebeu que não podia mais salvar o avião, ele saltou de um pára-quedas, mas o pára-quedas não se abriu. E este jovem veio descendo, descendo; ele caiu e ele se estraçalhou completamente no chão, quebrando todos os seus ossos.

O pastor da igreja foi visitar o seu pai, e ele foi logo dizendo estas palavras: "– Você não me fale mais em Deus, porque não quero mais saber. Se existisse um Deus de amor, Ele não deixaria uma coisa semelhante acontecer ao meu filho. Eu não quero mais saber destas suas pregações do amor de Deus. Não existe Deus. Não creio mais em Deus. Não creio mais que existe um Deus de amor."

Os ímpios não têm esta certeza; mas para os que crêem em Jesus Cristo, há esta segurança do amor de Deus. O Espírito Santo derrama em nossos corações o amor de Deus.

Mas qual é a maior prova do amor de Deus? Agora que ele falou sobre a esperança, e a razão da certeza da esperança é o amor de Deus, ele agora mostra a certeza desse amor. Por que é certo e seguro o amor de Deus? V. 6: "Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios." Como podemos saber que Deus nos ama realmente? Porque Cristo morreu pelos ímpios. Quem eram esses ímpios? Nós mesmos, e toda a humanidade. Mas em que situação estávamos? Éramos ímpios e fracos.

Em que sentido nós éramos fracos? O que significa isso? Nós éramos fracos no conhecimento de Deus: ignorantes do Seu amor, sem a capacidade de reconhecê-lO. Nós também éramos fracos em poder: a natureza pecaminosa reinava em nosso corpo. Conhecimento é poder; salvação é poder; segurança é poder. E isso não possuíamos. Mas agora nós temos tudo isso, porque o amor de Deus é derramado em nossos corações. Quando nós éramos fracos, sem conhecimento e sem poder, e portanto pecadores perdidos, ímpios, Jesus Cristo morreu por nós.

Mas o v. 7 apresenta uma dificuldade: "Dificilmente" – aqui está a dificuldade: "Dificilmente alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer." Não é difícil encontrar alguém que morra por outro alguém? Isso é muito difícil, essa é uma grande dificuldade. Mas muito mais difícil é alguém morrer por um ímpio, por um pecador, por um rebelde.

Imagina você morrendo por alguém que perseguiu a você, que insultou a sua honra, que matou o seu filho único, que incendiou a sua casa e roubou as suas propriedades – você morrendo por um ímpio desses. Esta é a dificuldade. Foi fácil para Deus perdoar o pecador? Foi muito difícil para Ele enviar o Seu Filho amado. Foi um sacrifício infinito para Deus.

Mas é exatamente na dificuldade que Deus prova a grandeza e sublimidade do Seu incomparável amor. V. 8: "Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores." Esta é a maior prova do amor de Deus: O fato de Jesus Cristo ter morrido por nós, enquanto que éramos pecadores, ofendendo a Deus e desafiando a Sua autoridade. Você está procurando alguma prova de que Deus ama você?

Um jovem universitário foi à casa de um pastor adventista, certa vez e disse: "– Pastor, o meu assunto é bastante constrangedor, mas eu vou lhe falar, porque é minha resolução final. Há 7 anos eu tenho tentado, tenho procurado me convencer de que sou um adventista do 7º dia, mas eu agora não agüento mais", disse ele. "E eu gostaria que o senhor me excluísse do rol dos membros da igreja." O pastor ficou chocado. Era um jovem correto, era um jovem de boa formação, de uma família com muitos filhos, todos eles universitários também.

"– Mas o que aconteceu?" perguntou o pastor. "– Olha, eu não creio mais no amor de Deus. Se existe Deus, eu não creio que Ele nos ama. Por que existe tanto sofrimento? Por que tantas desgraças, tantas crianças inocentes que nascem paralíticas? Pastor, nem adianta, o senhor nem vai me explicar, eu não aceito a sua explicação. Pastor, eu já estou resolvido. Eu queria que o senhor reunisse a Comissão da Igreja para tratar logo desse assunto." Então ele disse: "– Eu lhe peço que não interfira, porque esta é uma resolução amadurecida." E ele foi excluído da igreja, não era mais um cristão. Havia 7 anos que ele se esforçava para manter uma aparência.

Será que você está procurando provas do amor de Deus? Mesmo que nós estivéssemos na sarjeta, isso não prova que Deus não nos ama. O amor de Deus é provado na cruz. Na cruz do Calvário está a maior demonstração do amor. "Deus prova o Seu próprio amor para conosco" pelo fato de que embora ímpios, embora pecadores, embora iníquos, Jesus Cristo entregou a Sua vida por nós. E isto fortalece e assegura a nossa esperança em Deus.

E agora, depois de falar da certeza da esperança, após falar da certeza do amor de Deus, que assegura a esperança, ele volta à certeza da salvação. E ele chega a esse assunto através de uma conclusão. V. 9: "Logo" – isto é uma conclusão: "Logo, (portanto) muito mais agora, sendo justificados pelo Seu sangue, seremos por Ele salvos da ira." Esta é a conclusão: Se no passado Ele já derramou o Seu sangue, e no presente nós já estamos justificados, quando, no futuro, a ira de Deus se manifestar, nós seremos salvos dessa ira com absoluta certeza.

Em outras palavras, ele está dizendo que a nossa salvação é certa e segura, mas por quê? Porque se Ele já fez a coisa mais difícil para nos salvar, como não faria o que é mais fácil? Se já estamos justificados pelo Seu sangue, como é que poderíamos nos perder, como poderíamos deixar de ser salvos?

Como é que você tem a segurança e a certeza de que quando a ira de Deus for derramada sobre os ímpios, quando as 7 Últimas Pragas forem derramadas sobre os pecadores perdidos, como é que você vai ter a segurança e a certeza de que você não estará lá debaixo daquela ira? Como é que você tem esta certeza?

Ah, isso é certo, é seguro, porque Ele já morreu por nós, já derramou o Seu sangue. Você está justificado, você está purificado. Se você crê em Cristo, o seu nome está escrito no Livro da Vida, e ao lado do seu nome a conta da justiça de Cristo colocada ao seu favor.

Você pode ver mais um motivo de segurança aqui? Você pode ver uma certeza, porque a sua salvação não está baseada naquilo que você está fazendo, ela está baseada no que Cristo fez no monte do Calvário. Portanto – isso é certo. Muito mais no futuro Ele demonstrará o Seu amor quando nós nos defrontarmos com o Dia da Ira.

E então ele dá uma outra razão: Por que você pode ter certeza de salvação? V. 10: "Porque se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do Seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela Sua vida."

Não é impressionante este argumento do apóstolo? Se antes nós éramos inimigos, nós estávamos desafiando a autoridade do Céu, nós éramos "filhos da ira" (Efés. 2:3), Jesus Cristo nos amou tanto, de tal modo, que morreu por nós. E se isto foi feito quando nós éramos inimigos, muito mais Ele fará estando nós agora reconciliados, em paz, em harmonia com Deus. Isso é certo, isso é seguro, e esta é a infalível promessa de Deus.

E aqui ele fecha o parêntesis, porque ele está falando sobre nos gloriarmos nas tribulações, as quais produzem a esperança que nós temos na cruz de Cristo, enaltecida e exaltada pelo Espírito Santo.

III – O CRISTÃO SE GLORIA EM DEUS

Em que mais nos gloriamos? Disse Paulo no v. 11: "E não apenas isto mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação". O cristão se gloria em Deus. Certa vez Maria, mãe de Jesus, cantou estas palavras: "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador" (Luc. 1:46, 47). Como disseram os filhos de
Coré: "Em Deus nos temos gloriado continuamente". (Sal. 44:8).

O que significa gloriar-se em Deus? Não significa gloriar-se nas bênçãos de Deus, não significa gloriar-se nas coisas materiais que Deus lhe deu. É muito mais do que isto. Significa que agora você está numa amizade estreita, num relacionamento com o seu Deus, com o seu Criador, com o seu Senhor, com o seu Redentor, e você se gloria no próprio Deus.

O noivo se gloria na noiva; o marido se gloria na esposa; o cristão se gloria em Deus, porque ama a Deus e aprecia a Sua presença por causa da reconciliação que Ele mesmo providenciou. A reconciliação é um fato maravilhoso com ele e Deus. Ele não tem mais dúvida sobre a sua vida futura. Ele só tem a certeza em Deus. Nada mais vale tanto quanto este estreito relacionamento que ele tem com Deus. Por isso ele se gloria em Deus, seu Salvador.

Certa vez um ministro visitou um fazendeiro muito rico. E então o fazendeiro lhe mostrou as suas posses, e disse: "Pastor, o senhor olha para a sua frente: tudo o que você pode ver, é meu." O ministro disse: "Muito bem. O senhor tem muita coisa!" "Pastor, olhe para a sua direita – tudo o que os seus olhos puderem alcançar me pertence." "Que maravilha! É um espetáculo!" "Pastor, o senhor olha para a esquerda – tudo o que o senhor puder ver me pertence; e da mesma maneira para trás. Tudo o que o senhor puder olhar me pertence."
"– Mas que fantástico! Mas, me diz uma coisa" disse o pastor, apontando para o Céu: "Quanto o senhor tem nesta direção?" "– Bom, eu tenho que ser honesto. Nesta direção eu não tenho nenhum pedaço de terra."

O ímpio se gloria nas propriedades, nas diversões, nas realizações. O cristão se gloria na esperança da glória de Deus; ele se gloria nas tribulações; ele se gloria em Deus. Em que é que você está se gloriando?

Certo homem tinha um hábito muito desagradável para a sua família e para outras pessoas de sua igreja. Cada vez que ele ficava animado com um assunto da Bíblia, ele gritava com toda a força dos seus pulmões: "Glória aleluia!" E os outros olhavam e ficavam meio constrangidos; e os filhos pensavam: "Por que é que o papai não fica quieto?"

E não era somente na igreja. Às vezes na rua alguém falava alguma coisa da Palavra de Deus, e ele ficava animado, e de repente ele começava a gritar e dizia: "Glória aleluia!"

E às vezes, dentro do ônibus, ele pegava a Bíblia começava a ler e quando encontrava alguma coisa maravilhosa, de repente, sem se importar com quem estava olhando, sem se importar com quem estava perto, ele dizia: "Glória aleluia!" E todo o mundo ficava rindo. E os seus filhos diziam: "Por que papai não fica quieto? Todo o mundo está olhando, nós estamos envergonhados."

E um dia o seu filho o levou para um consultório médico. E o seu filho foi lá fazer uma consulta. E olhou logo de relance para ver se tinha alguma Bíblia, porque ele disse: "Se tiver alguma Bíblia aqui, o meu pai vai começar a gritar e eu vou ficar envergonhado." E o deixou ali na sala de espera. E encontrou um livro de Geografia e entregou esse livro para o seu pai. E ele disse: "Ah, o meu pai não vai encontrar nada neste livro para gritar."

Então o seu filho foi fazer a consulta. E ele estava lá dentro com o médico, fazendo a consulta, quando de repente ouviu lá da sala de espera o seu pai gritando: "Glória aleluia!" E então ele saiu correndo e disse: "Papai, o que houve? Por que é que o senhor está gritando agora? O que é que este livro tem que desperte todos esses gritos?" "Ah – disse o pai – eu li neste livro que há um lugar no Japão em que o mar tem milhares de quilômetros de profundidade. E a Bíblia diz que os nossos pecados estão lançados lá nas profundezas do mar. Veja, meu filho, quanta água em cima dos meus pecados."

• O cristão se gloria na esperança da glória.
• O cristão se gloria até nas tribulações.
• O cristão se gloria realmente em Deus.

Em que é que você está se gloriando?



PR. ROBERTO BIAGINI
Teólogo, Mestre em Teologia. Realizou vários cursos de Extensão Teológica da Andrews University e do Centro de Educação Contínua da DSA. Trabalhou como distrital de várias igrejas do centro, norte e sul do país. É casado com a Profª. Silvane Luckow Biagini, e tem dois filhos, Ângela e Roberto.

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