SALMO 1 - A PRIMAZIA DA PALAVRA

1 Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. 2  Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. 3  Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. 4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa. 5  Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos. 6  Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá. Este poema é uma introdução de encaixe ao livro de 150 salmos. Revela o padrão básico da sabedoria e adoração de Israel. A vida é vista não nos momentos isolados do presente, mas na perspectiva da eternidade, na visão de Deus. O autor conecta vida humana intimamente com a vontade e o coração de Deus. O salmo lança um apelo desafiador a Israel – e a to

O Púlpito e as Mulheres

Um dos temas mais controvertidos no contexto religioso é o debate sobre o estilo de adoração adequado. Desta vez, as mulheres não ficaram de fora, uma vez que na perspectiva de algumas igrejas é considerado falta de respeito para com Deus e ao próximo permitir que uma mulher exorte uma congregação.

Diante das indagações que estão surgindo, resolvi pesquisar no livro santo para descobrir se existe alguma objeção na Bíblia no tocante a exortação feminina. A pesquisa limita-se em grande proporção nas cartas paulinas, onde percebemos que houveram problemas bem semelhantes, principalmente no contexto de I Coríntios 14:34 - “Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhe é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina”.

O que levou Paulo a fazer estas declarações? Será que suas afirmações estão limitadas a sua época, ou também para os nossos dias? Pode haver alguma possibilidade do texto ter sido traduzido de maneira não coerente a ponto de mudar seu sentido? Como os líderes religiosos tem visto as reivindicações de algumas senhoras que pleiteiam estes privilégios?

O CONTEXTO HISTÓRICO E ESPECÍFICO

O que vem declarando em I Cor. 14:26-40, parece demonstrar que as reuniões em Corinto eram muito desordenadas. Paulo menciona no verso 25 que existia várias manifestações ao mesmo tempo. Ninguém pedia a palavra, vários falavam ao mesmo tempo e em tudo sobressaía em bagunça e vanglória, e não é a toa que Paulo declara no verso 26 que tudo seja para edificação e no verso 33, que Deus é um Deus de paz e não de desordem.

Entre estes problemas, o uso do dom de línguas naquela época era usado inconveniente, todos queriam falar ao mesmo tempo e sem interpretações ninguém entendia nada, da mesma forma o uso da profecia. De fato o nível de participação pode ter escapado ao controle.

Creem alguns comentaristas que Paulo sendo um produto da cultura judaica, recebeu influências do tratamento que esta dava à mulher. Adam Clarke, escritor cristão, comenta que era uma ordenança judaica não permitir às mulheres ensinar nas assembleias, nem mesmo fazerem indagações. Os rabinos ensinavam que uma mulher não deve saber outra coisa, senão usar os seus utensílios caseiros. “Uma regra extraída da sinagoga e mantida na igreja primitiva (ver I Tim. 2:12)” . (1)

É conhecido que nos tempos antigos, o lugar que a mulher ocupava era muito baixo. No mundo grego Sófocles falou: “O silêncio confere graça para as mulheres”. As mulheres, a não ser que fossem muito pobres ou de mui baixa moral, tinham que viver isoladas em casa. Os judeus tinham inclusive uma ideia mais baixa da mulher. Entre os rabinos havia alguns ditos que colocavam a mulher ainda numa situação muito pior, como estes: Ensinar a lei para mulher é ensinar a impiedade. Outro sentenciava: ensinar a lei para a mulher é como jogar pérolas aos porcos.

No Talmude, na lista relacionada com as pragas do mundo aparece: a mulher faladora; a viúva curiosa; e a virgem que perde todo o seu tempo fazendo orações. Era inclusive temível falar com as mulheres na rua. Ninguém podia solicitar um serviço para uma mulher, nem podia cumprimentá-las.“Esta sociedade era similar a que Paulo tinha quando escreveu aos Coríntios... Seria certamente muito errado tomar estas palavras de Paulo fora do contexto em que foram escritas e fazer delas uma regra universal para todas as igrejas .” (2)

Este costume era rígido nos tempos paulinos as mulheres, mas aos homens era concedido direitos reservados de falar nas Assembleias.

Analisaremos duas palavras, uma frase e um tema chave de I Coríntios 14:34.

Falar (lalei/n)

Esta palavra no original, (lalein), pode se referir a qualquer modalidade de elocução verbal, incluindo pregação, conversação, tanto pública como em particular. Esta palavra é usada 295 vezes no Novo Testamento, a fim de expressar todas as formas imaginárias de elocução verbal, pública, particular, formal e informal.

Alguns intérpretes tem procurado formar um argumento, com base no vocábulo grego aqui utilizado, supondo eles que certas “formas” de elocução verbal eram permitidas, mas outras não. Assim sendo, a “pregação” não seria permitida, mas outras elocuções verbais seriam permitidas. Ou então, no sentido que as mulheres era vedado fazerem perguntas, disputar, etc., embora pudesse falar de outra maneira. Porém tal interpretação perverte tanto o sentido do vocábulo grego como a própria passagem. Pois tal vocábulo tem um sentido muito geral, podendo indicar qualquer forma de elocução verbal . (3)

Essa palavra foi usada muitas vezes na Bíblia, porém com diferentes elocuções verbais. Exemplos:

• Mt. 9:18, 33 e 13:3: Jesus narrava tanto suas palavras à multidão como também em particular.
• Mt. 14:27: Neste caso a expressão era usada para indicar conversas privadas.

Note que a palavra falar possui diversos significados. Seja qual for o motivo desta restrição, pode haver a possibilidade de incluir em um sentido de falar em línguas e até mesmo profetizar (ver os vv. 27, 29). Nesse caso, há a mesma possibilidade, pois o verbo falar desses dois versículos, são os mesmos do verso 34, embora diversos comentaristas dizem que não se refere a profetizar e sim de fazerem perguntas, enquanto outros o “ato de ensinarem”. Assim sucedem as diferentes opiniões.

Independente, se a palavra lalein pode significar diversas formas de elocuções, deve-se levar em consideração, que a mulher tinha que ficar em silêncio, não falar, por ser isso vergonhoso para ela na igreja (ver trigésimo quinto versículo).

Portanto não falar, é não profetizar, não falar em público, não ensinar, caso o leitor se interrogue nessas outras possibilidades apresentadas pelo verbo.

Ora, é evidente com base no texto, que Paulo transferia para a igreja cristã uma atitude judaica. Ele acabava de regulamentar o uso dos dons de línguas e da profecia, e agora as normas a respeito da exortação feminina precisavam ser destacadas em sua plenitude para colocar ordem e descência no culto, vedando assim o direito de falar, que logicamente “não falando”, “não podiam também profetizar”.

Não olvidemos que o apóstolo Paulo se referia às reuniões “oficiais” da igreja, mas ele era favorável ao ministério feminino em outras esferas e ocasiões.

As declarações paulinas em I Cor. 14:34 e I Tim. 2:11 e 12, são um lado da moeda, porque o próprio apóstolo Paulo na mesma carta no capítulo 11:5, faz uma alusão naquela época que haviam mulheres que oravam e profetizavam, sem dúvida uma referência às mulheres que em reuniões públicas falavam a respeito das coisas divinas. Lucas em Atos 21:9 nos cientifica de que as quatro filhas de Filipe profetizaram, nada mais que publicamente se tornarem portadoras das revelações de Deus.

Alguns estudiosos têm argumentado que essa atitude seria levada a efeito por mulheres em reuniões menos importante, talvez privada, mas não diretamente associadas com a igreja, ou talvez ele se referisse apenas ao falar privado das mulheres. Contudo apesar dessa ser uma interpretação possível, quando muito, é dúbia, apesar das mulheres poderem ensinar certas coisas e profetizar (como se vê no relato de Atos 21:9) . (4)

Submissas, Sujeitas (upotasseqo/ai)

Há diversos textos que oferecem um significado parcial quanto ao significado das mulheres serem submissas. “Submissas” , Paulo declara em relação aos maridos.

Tal indicação neste contexto histórico, seria a crença judaica de que as mulheres, devido a sua parte na caída do homem em pecado, Deus a colocara em status de subordinação frente o seu esposo (Gên. 3:6, 16; Ef. 5:22-24; I Tim. 2: 11-12; Tito 2:5; I Ped. 3:1, 5-5). Em alguns casos isto era levado a sério demais. Muitas mulheres trocariam tudo em suas vidas e terem nascidas como homens.

A mudança da natureza do homem ocasionado pela entrada do pecado em sua vida, terminou com a existência harmoniosa que a esposa, mulher, havia conhecido antes. Não convinha que o homem e a mulher tivessem igual autoridade na condição de lugar, e Deus preferiu colocar sobre o homem a responsabilidade maior de tomar as decisões em sua família e instruí-la. Embora isso não torne as mulheres inferiores aos homens.

“Como Também a Lei o Determina”

É provável que o termo “lei” usado neste verso, se refira às escrituras do Antigo Testamento, que eram interpretadas nas práticas judaicas.

As passagens bíblicas que podemos colocar em foco, seriam Gn. 3:16 e Núm. 30:8-12, indicando que a mulher deve depender totalmente de seu marido, por estar-lhe sujeita.

A mulher que desejasse falar em público, estaria passando uma ideia de usurpação de autoridade em seu marido; e, mesmo que fosse solteira, usurpando a autoridade dos homens presentes. Pode ser que o fato das mulheres, declarado em I Cor. 11, de não usarem o véu na igreja, indique um ato de revolta, querendo assim ser igual ao homem, de cabeça lisa podendo assim obter os mesmos direitos nas assembleias.

Ora isso era reputado como uma afronta das piores para a dignidade da congregação, segundo a mentalidade judaica, porque para os judeus, uma criança podia ler a lei, desde que fosse menino, e uma mulher não podia fazer nem mesmo isso.

Para os judeus, o fato das mulheres tomarem uma boa posição nas assembleias, estaria tomando a autoridade masculina sobre a feminina, declarando na lei os primórdios.

Temas Chaves

“Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas...” Esse tem sido um tema muito contestado por vários teólogos, e para isso temos que ter em vista alguns pontos importantes em conhecer o modo de atuação destas mulheres.

1- O conselho de Paulo é um pouco limitado, no sentido que não se refere a todas as mulheres, mas apenas às esposas de homens cristãos que estão congregando. Além disso refere-se a como as mulheres devem aprender e não como ministrar. (Vs 35)

2- O conselho é dirigido a uma cultura antiga que tinha padrões para o comportamento das esposas, diferentes dos atuais em muitos lugares.

3- Visto que Paulo confirmou que as mulheres oravam e profetizavam em público (I Cor. 11:5 e 13) e que as mulheres possuíam o dom de profecia (At. 2:17 e 18; 21:8 e 9), a regra contra as mulheres falarem nos cultos não é absoluta.

4- Esta afirmação era local e específica. Paulo preferiu agir conclusivamente para não causar mais alvoroço na igreja de Coríntios, enquanto que em outras localidades e contextos diferentes como já foi mencionado houve apoio por parte do Apóstolo Paulo para a exortação feminina.

E na palavra de Paulo VI podemos afirmar: “chegou a hora em que a vocação da mulher se realiza em plenitude e ela adquire na sociedade, uma influência, um alcance, um poder, jamais conseguidos até aqui. Por isso, neste momento em que a humanidade sofre uma tão profunda transformação, as mulheres, impregnadas do espírito do evangelho, podem ajudar muito a humanidade a não decair .” (5)

CONCLUSÃO

Não existem argumentos teológicos conclusivos que proíba a mulher falar em público nas assembleias. As restrições determinadas pelo Apóstolo Paulo à igreja de Corintios, não foram aplicadas em todas as igrejas cristãs da mesma época, pelo contrário, em contextos diferentes, o apoio para a exortação feminina é evidenciado pelo Apóstolo.

A menção coibitiva em 1 Coríntios 14:34 é local e especifica, no que diz respeito ao contexto sócio-cultural e religioso em Corinto, e foi dada com o objetivo de solucionar um problema de uma cultura antiga e diferente. Esta menção se refere mais ao ato de aprender do que ensinar conforme o verso 35.

Pr. Fabio dos Santos
Editor

BIBLIOGRAFIA

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Notas

(1) Champlin, 231.
(2) William Barclay. El Nuevo Testamento comentando (Buenos Aires: Editorial la Aurora, 1973).
(3) Champlin, 4.
(4) Champlin, 232.
(5) Pedro Apolinário. Análise de textos bíblicos difíceis de interpretação, vol II (São Paulo: Instituto Adventista de Ensino, 1981), 16.

Comentários

  1. Fabio gostei do seu trabalho, como pesquisador e transcritor de textos.
    Nisso você é muito bom mesmo, mas so faltou uma coisa simples para todos que leram esse artigo:

    VOCÊ É A FAVOR OU CONTRA AS MULHERES NOS PÚLPITOS E AS MULHERES COMO PASTORAS, PODENDO PREGAR, CASAR, BATIZAR,.......?

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  2. Sou a favor das mulheres pregarem nas igrejas. Quanto a exercer o ministério pastoral é uma questão mais complexa. Essas teriam que abrir mão do lar, tarefa indispensável para manter a ordem familiar.
    A igreja Adventista ainda não ordena mulheres para serem Pastoras. Pode ser que um dia, seja necessário.

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